(por Camila Furtado)
Finalmente conseguiu se separar! Assim que voltou do banco com a última prestação da casa própria quitada, sentiu que chegara o momento em que não precisaria mais da outra metade para nada. O carro, pago. A casa, paga. O carnê dos móveis terminou antes do último natal. Difícil era separar os discos e livros - quais eram seus e quais eram dele?- tanto fazia... que ficasse com todos, porque até o repertório precisaria mudar. Só queria a cama toda para si, queria as camas estranhas também e toda sorte de aventuras que a solteirice pudesse trazer.
Finalmente conseguiu se separar! Assim que voltou do banco com a última prestação da casa própria quitada, sentiu que chegara o momento em que não precisaria mais da outra metade para nada. O carro, pago. A casa, paga. O carnê dos móveis terminou antes do último natal. Difícil era separar os discos e livros - quais eram seus e quais eram dele?- tanto fazia... que ficasse com todos, porque até o repertório precisaria mudar. Só queria a cama toda para si, queria as camas estranhas também e toda sorte de aventuras que a solteirice pudesse trazer.
Um ano experimentando a
sensação de desamar alguém. Um ano ensaiando a fatídica frase dita no meio do
jantar, à queima-roupa. Um ano pesando prós e contras e ensaiando respostas
para os que achavam que eles formavam um casal perfeito. Nenhum argumento pesou
tanto quanto a falta de romance. Acreditava que o amor poderia sobreviver à
qualquer coisa, à falta de dinheiro ou à qualquer outra falta, até de pão. Mas
descobriu que nenhum amor resiste à falta de romance. Nenhum pró foi capaz de
segurar essa, nem o sexo garantido, nem a sensação de proteção. É fácil, quando
se sabe o que quer.
Agora vinha a parte
operacional da coisa. Separar fotos, documentos, enxoval e mais um monte de
tranqueiras. Esboçou um sorriso ao ver quão espaçosos ficaram seus armários agora
que as coisas dele estavam encaixotadas e prontas para ir. Abriu o champanhe e
deliciou-se andando pela casa, que de repente ficou enorme. Abria e fechava
portas, encantada com os espaços vazios. Gostou tanto da sensação de liberdade
que nem se deu conta de que a solidão estava à espreita, esperando passar o
efeito da bebida para chegar e apossar-se de cada cantinho deixado por ele.