domingo, 30 de dezembro de 2012

odeon








sempre considerei a música dos mutantes
superior a dos beatles
rita Lee infinitamente bonita
vestida de noiva
sobre um bolo branco de casamento
(ser herói
ser marginal)


assumo pecados de cristão novo
fujo do futuro
retorno aos anos infantis
quando ouvi surpreso e encantado
o disco com capa estranha
meio monstro
meio árvore
caminho no sentido contrário
através das fotografias em preto e branco
em pose de grupo escolar

(atrapalhado pela conversa das duas amigas
na estação largo do machado
invadindo o poema
a maneira dos órgãos de repressão
pós ato institucional número cinco)


carrego a caneta entre os dentes
apontando armas
tentando recuperar o discurso político
recriando esperanças
lançando bóias salva vidas
me transformo em Torquato neto vampiro
das areias de Copacabana
em um filme antigo

quanto há de passado no presente
diversas maneiras de perceber o mundo
olhos envelhecidos
preso ao medo da morte
descoberta na autópsia do próprio cadáver

assistir pela janela
o quarto de menino
abrigo de revoluções e brinquedos
a dor rasgando superficialmente a pele
deixando impressões tatuadas
demolindo muros
abatendo o ódio no renascimento
sobre o amor vazado.


Flávio Machado