terça-feira, 31 de julho de 2012

Poemas da 6º etapa - Poema inspirado em uma Imagem / Haikais


POETA: QUAL IMAGEM VALE MAIS QUE MIL PALAVRAS PARA VOCÊ?


Anna Lisboa

“A imagem de um câncer: Adolf Hitler. Se posso descrever esse diabo com mais uma metáfora, digo que o ego nunca foi tão bem registrado.

A imagem da cura: Oskar Schindler, o salvador de Plaszow. Se posso descrever esse anjo com mais uma metáfora, digo que me ajudou a renegar o inferno. Como no filme: “Quem salva uma vida, pode salvar o mundo”.

Per-Verso


“A imagem que vale mais do que mil palavras seria a minha foto na carteira de identidade. Apesar de mostrar um rapaz de 18 anos, sem nenhuma expressão e em preto branco, há muitos significados ali para mim. O início da minha maioridade, os sonhos de uma vida adulta cheia de realizações. Me pergunto sempre o que estaria pensando naquele momento em que fui fotografado. Tento decifrar quem era aquele cara que ficou ali, talvez só ali, naquela foto. Enfim, acho que nem com um milhão de palavras conseguiria falar sobre aquele simples pedaço de cartolina com minha cara estampada”.



Lune



“A imagem da solidariedade, em contraposição à imagem da miséria. Ambas valem mais que mil palavras. Há uns anos, aquela foto do menino africano agonizando, enquanto um urubu aguardava pacientemente que acabasse de morrer, me deprimiu horrores. Como é possível tamanha miséria econômica, física e, sobretudo, moral? Então, uns meses depois (talvez um ano, não lembro bem), fique demoradamente assistindo às imagens de voluntários salvando vidas sob os escombros de um terremoto. E tendo a certeza de que (ainda) é possível salvar quando se dá importância ao homem acima de qualquer coisa. Mantenho as duas imagens sempre no meu álbum mental. A que me lembra do que o homem é capaz... A que me lembra do que o homem é (igualmente) capaz”.



João Saramica



“Um túmulo simples, cercado de mausoléus riquíssimos e todos paramentados, como convém na época do feriado de finados, enfeitado com sempre-vivas (uma flor nativa das serras da minha cidade natal e que custam apenas o esforço de apanhá-las). Eu interpretei desta maneira: "tu estás sempre vivo (a) no meu coração e esta é a minha forma de demonstrar um amor verdadeiro, que extrapola o tempo e as dimensões".


Dersu Uzala



“Essa coisa de que uma imagem vale mais de mil palavras não tem resposta definitiva, como eu poderia responder com uma imagem a esse pergunta? Não haveria imagem que traduzisse esse discurso, eu cultivo uma especial definição ou percepção sobre essa questão de imagem e palavra, poesia e poema, faço a comparação para tentar explicar, poesia é um sentimento, uma emoção que pode surgir de uma imagem, e pode virar um poema, ou não, e ser apenas uma constatação, um sentimento intransferível, e uma imagem nem sempre vale mais do que mil palavras”.



Jean Jacques



“Meu filho sorrindo é uma imagem que vale não por mil palavras, mas por mil poemas. Uma fotografia dele sorrindo revela minha total incapacidade como poeta: não tenho palavras que retratem a profundidade do que aquele sorriso representa pra mim”.



Manoel Helder



“A imagem que para mim vale mais que mil palavras é a do manifestante chinês que desafiou os tanques em Pequim, durante o massacre da Paz Celestial, numa foto de Jeff Widener/AP”.



Gaspar



“A imagem de um filho. É inexplicável. Olho as fotos agora e vejo bem a carinha de joelho, parece mais enrugado que eu, hoje, aos 59 anos. A língua saindo pra fora da boca, os olhos muito abertos, como se estivesse vendo um bicho (adivinha quem era o bicho). Como diz uma amiga “é uma coisinha linda, credo!”. Mas, a vibração, o preenchimento interior, e sabe-se lá mais o que... Dominam a cena ainda hoje. Nem com mil ou duas mil palavras se explica. (talvez uma poesia possa explicar com bem menos. Eu, confesso, nem tento)”.



G.D



“Todas as imagens captadas por Serguei Mikhailovitch Eisenstein”.



Alice Lobo



“O azul. Tenho cá para mim que existe um estado no universo por mim mal-intitulada de "azulzyness", que é a propriedade do azul de tudo invadir e impregnar de sentimento. Ainda não consegui descobrir uma palavra (ou uma junção delas) que defina ou explique o estado do céu logo antes do dia amanhecer completamente. É o poder do azul. E isso só se revela em imagem”.



Barolo



“Acho palavras e imagens igualmente poderosas. Há palavras que nos remetem a imagens e imagens que nos deixam sem palavras".



Nonada F.C.



“A árvore plantada bem em frente à janela da sala em que trabalho aqui na UFJF. Ela produz uma sombra maravilhosa, sob a qual várias pessoas descansam”.





SEJAM BEM-VINDOS A 6º ETAPA DO II CONCURSO DE POESIA AUTORES S/A: POEMA INSPIRADO EM IMAGEM / HAIKAIS



La Gioconda



E me tomam por Esfinge e esperam que os devore...

Na ausência de mistério seus olhos mordem meu riso

- sorriso à prova de fogo - sob as fundações do Louvre:

se põem à cata vazia dos mistérios que não tenho.



(Manoel Helder)



Calados enquanto os sigo

Me chamam em quanto medo

Cem com tato, um com alma: Leonardo

O único que não pintei



(Anna Lisboa)



em teus olhos, sempre um risco

- oceano a descortinar

o teu silêncio é de animal abandonado

(feito daquilo que não pode ser dito em luz e ar



(Alice Lobo)



Enquanto teus raio-X e petulância

não me alcançam, só arranham

eu só rio, um riso, zombeteiro...

gargalhadas, Leonardo da Vinci.



(João Saramica)



dissimulados recatos

olhos sem arcos de pelos

conquistam rei e gatuno

hipnotizam o mundo



(Lune)



não - não a esperança

apenas a espera previne

dos bocejos do tempo - essa fera

- contra o tempo um sorriso



(Gaspar)



E me tomam por esfinge de propósito irrevelado

Autorretrato do pintor, alter ego feminino.

Eu aqui tão protegida sob o vidro da redoma

Tão pequena em tamanho, que mistério posso ter?



(Barolo)



desvendar os véus do sorriso

romper a tela em rasgada euforia

romper camadas de tinta

desnudando as falsas aparências.



(Dersu Uzala)



Ela vive e seu sorriso finalmente desabrocha

Na primaveril loucura de um poeta:

Gargalhada liberta dos limites da tela

E banhada pelas cores da vida!



(Jean Jacques)



Para que tanto mistério?

É pra te enredar.

E esse sorriso banguela?

É pra te devorar!



(Per-Verso)



Decifra-me ou te ignoro

em meu sorriso oculto, sarcasmo

que a ti dúvidas eleva:

tomam-me por esfinge e me devoram.



(Nonada F.C.)



Este foi o 2º Poema S/A escrito pelos 12 poetas do concurso (com exceção do poeta G.D). Mais um belo poema, um marco neste certame. Parabéns a todos os poetas que escreveram inspirados em Monalisa, de Leonardo Da Vinci.


(Paris, 1956; Robert Doisneau)

            Robert Doisneau estaria completando 100 anos de idade em 2012. Os 12 poetas finalistas escreveram poemas em homenagem ao fotógrafo francês, inspirando-se na imagem acima. Observem bem esta fotografia; sejam enlevados pelo olhar daquele garoto. O que estaria pensando? Estaria sonhando? Alimentando uma esperança? Dando forma às livres nuvens com seu olhar encarcerado? Viaje com os poemas que os nossos grandiosos finalistas prepararam! Mas, antes, alguns avisos:



BÔNUS DOS LEITORES





O ponto bônus desta etapa será disputado através dos comentários desta postagem. Para que um voto seja devidamente computado ao poeta, o comentarista deverá:





-COMENTAR LOGADO EM SUA CONTA DO GOOGLE (NÃO SERÃO VÁLIDOS COMO VOTO AS OPÇÕES: ANÔNIMO, NOME/URL E OPENID).







-MENCIONAR O NOME, PSEUDÔNIMO OU O TÍTULO DO POEMA QUE DESEJA CONCEDER O SEU VOTO.





- NAQUINTA-FEIRA, ÀS 18 HORAS, A VOTAÇÃO SERÁ ENCERRADA COM UM COMENTÁRIO DE ENCERRAMENTO DA ORGANIZAÇÃO. APÓS ESTE COMENTÁRIO, NENHUM VOTO MAIS SERÁ COMPUTADO.





- O POETA MAIS VOTADO DA ETAPA RECEBERÁ 1 PONTO DE BÔNUS. EM CASO DE EMPATE, OS POETAS EMPATADOS DIVIDIRÃO O 1 PONTO DE BÔNUS ENTRE ELES.






PREMIAÇÃO DA ETAPA





O primeiro colocado no Ranking desta etapa será agraciado com o livro:

  



“Andrômeda e outros contos”, de Ruy Espinheira Filho







BÔNUS DO JÚRI




Os escritores Victor Paes e André de Leones serão uns dos jurados desta etapa.

O poeta que mais se destacar positivamente, na opinião de Victor Paes e André de Leones, receberá 0,5 pontos de bônus.




PONTO-PRESENTE



Mais uma vez, teremos o “Ponto-Presente”. Vale esclarecer que não ganha o “Ponto-Presente” o poeta mais votado entre os poetas. Cada ponto concedido pelos poetas para outros poetas equivalem, de fato, 1 ponto que será somado ao Ranking Oficial posteriormente.

Portanto, nesta etapa, todos os 12 poetas deverão dedicar 01 ponto-presente ao poeta o qual ele considera ter sido o melhor sucedido no desafio “Poema inspirado em uma imagem” e no desafio “Haikais”. Ou seja, cada poeta deverá conceder 2 pontos, de acordo com os desafios. Um mesmo poeta poderá vir a receber os 2 pontos.

 O ponto e a justificativa do poeta deverão ser revelados via e-mail (poesiaautoressa@gmail.com) até quinta-feira, ao 12:00 hs. Na quinta-feira à noite, todos os pontos serão publicados no blog e acrescidos ao Ranking Oficial do II Concurso de Poesia Autores S/A. Embora se trate de uma competição, percebemos que todos vocês podem trocar, entre si, conhecimento e críticas construtivas, em prol do crescimento de todos os poetas. Todos vocês, poetas, já demonstraram ser sujeitos éticos e experts das letras. Sendo assim, vossa opinião é tão importante quanto. Leiam os poemas dos colegas com calma e enviem seus pontos e uma justificativa.



POEMAS DA 6º ETAPA: POEMA INSPIRADO NA FOTOGRAFIA DE ROBERT DOISNEAU





De Nova Friburgo, Rio de Janeiro: Barolo*

Pseudônimo: Barolo

*A poeta prefere não revelar o nome



Título: Dias Felizes



Éramos poucos na sala

Carteiras sobravam

O silêncio reinava nas aulas do mestre

Réguas batiam na contagem dos múltiplos

Reguadas ardiam na tabuada trocada



Éramos todos pequenos

O rigor assustava

A tabuleta pedia o cálculo escrito

O cálculo exigia a prova dos nove

Noves fora ecoavam em coro cantado



Éramos todos meninos

A união nos salvava

Sussurros passavam respostas secretas

Olhos por vezes miravam o teto

Olhares vagavam por toda a sala



Éramos muitos felizes

A alegria brotava

A amizade pintava paredes cinzentas

Risadas cortavam horas do dia

Dias que passaram deixando saudades.



&


De Trairi, Ceará: Wender Montenegro

Pseudônimo: Manoel Helder



Título: Os olhos de Doisneau e os Pássaros da infância





“E é cruel surpreender

a inocência.”

Herberto Helder



“Quando se vê, já é 6ª feira...”

Mario Quintana



E vi Doisneau

- olhos sujos de rua -

tomando para si

estes versos de Herberto:



“Alimentava-me

dos rostos minados pela rede dos nervos...”



Benditos são os olhos

infantis,

dourados

pássaros pousados

na segunda-feira.

Eles gritam na sala:

abre-te ábaco!

Noves fora (cola)

        nada

no olhar ao lado...



E vi São

Sebastião na esCol      a

           in

submetido aos flashes

de Doisneau.



E de repente outro pássaro:

“Agora, é tarde demais para ser reprovado...“1


1 Verso de Mario Quintana


&


De Cabo Frio, Rio de Janeiro: Flavio Machado

Pseudônimo: Dersu Uzala



Título: inspirado em Mário Quintana



(entre o olhar ameaçador do professor

e a curiosidade do amigo

o menino descobria a poesia)



durante do ano escolar havia a disputa

de várias modalidades esportivas:



futebol com chapinha de refrigerante

lançamento de pedras em vidraças

tombos nos professores

levantamento de saias



e a mais acirrada:

o campeonato de peidos.

dividido em duas categorias:

o mais barulhento e o mais fedorento



os atletas com afinco se preparavam

comendo o que a crendice ou

a ciência indicava para melhorar o desempenho



os corajosos jurados

julgavam as performances

dando notas e tecendo comentários



a cada semana um campeão

e o grande vencedor ao final de várias rodadas

tempo feliz o dos jogos estudantis.


&


De Betim, Minas Gerais: Francisco Ferreira

Pseudônimo: João Saramica



Título: Das Infinitas Possibilidades de Voar



Não é lá que estão

o meu coração

e as estrelas?



Então não me digam

do meu olhar ausente...



Se são meus olhos

de amor distante

que se querem presentes

onde ela está!



 &


De São Paulo, São Paulo: Henrique César Cabral

Pseudônimo: Gaspar



Título: Aulas Mortas



cabeças são falsos girassóis

cada olho sonha um ponto em fuga



onda de silêncio

sopra morna sobre o mundo

enquanto a alma se lança

em dança melindrosa



o mundo vespertino abre a porta

a teu perturbado ar noturno



o insuperável  sabor do voo

num banco duro – o coração

esquece que é matéria

e sonha ...



as amarras do tempo – as correntes

envolvem teu corpo de madeira



sonha que é dardo

no encalço de uma ideia

com asas – roçando o azul de leve

o silêncio alto da montanha velha



o inesquecível sabor das cinzas

seu lacrimoso alojar no olho



avança um dedo



o pensamento

versava sobre flecha

o arremesso a pressa



outro pensamento serpenteia

oblíquo, por tramas paralelas



sem rastro

a aura suspensa

além-ali o pio

da inocência



o coração cai placenta adentro

passa pelo estreito osso do tempo


&


Do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro: Thiago Luz

Pseudônimo: Jean Jacques



Título: Olhos Infantes



Avante, olhos infantes!

Segue ele, soldado absorto

Em seu reino íntimo,

Livre entre quatro paredes,

Atestando sua essência de menino.



Avante, castanhos flamejantes!

Segue ele, bárbaro à realidade,

Com a idade rutilante da aurora,

“Dom quixoteando” em sala em aula.



Avante, guerrilheiros da face!

Segue ele, um grito silencioso

Em tom de semblante pilhérico

Sob a turba de concentrados,

Guerreando em si, talvez:

A lição ou a imaginação?


&



De Atibaia, São Paulo: Geovani Doratiotto

Pseudônimo: G.D



Título: Aluno Operário



“Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo”. (Paulo Freire)



Imerso na (sa) cela de aula,                               

jaula aparente,                                                    

                  [observo sentado ecos de mim

livres,] livro(-me)

didaticamente do papel em branco.



A sirene dita o fim do tempo,

escravo das onomatopeias,                                   GRADE

o obturador clica:                                           GRADE

-click, click, clik;                                         GRADE

Eu, preso à imagem.                                    GRADE

                     [a lente                          GRADE

objetiva, não capta ideias,

nem sente.



Grades curriculares

me prendem.

Circular do ministério da educação

dita a diretriz quadrada,

Leio:

      “A revolução não será televisionada”

                                (Citação de citação)

No

Final do corredor, ao lado

do cartaz que pede educação, com amor,

havia o seguinte recado:

_________________________



Atenção:



G-R-A-D-E



GRAVE

AGUDO



-GREVE.

_________________________



-Quem não se movimenta-fica.

Escola-fábrica,

                          Escola-fábrica.


&


De Brasília, Distrito Federal: Lune*

Pseudônimo: Lune

*A poeta prefere não revelar o nome



Título: proclamar



e eu

já não te chamarei criança

porque à língua terá sido recusado

pronunciar perfeição

nem serei verbo em voz

que do sibilar dos sussurros

brotam sinapses

nos vermes que rastejam

em excitada sordidez

na lama que defecam

e eu

afastarei da tua luz de lua cheia

a larva-homem que fareja

a form(a,)usura

e explodirei as bússolas delatoras

e pintarei de piche as janelas

do meu abraço

fazendo eclipse onde esconder

tua inocência impressentida

e eu

já não te chamarei criança

porque à língua terá sido recusado

pronunciar perfeição

mas aos olhos vítreos

bicôncavos

será comandado

imperativamente

proclamar


&


De Juiz de Fora, Minas Gerais: Hernany Tafuri

Pseudônimo: Nonada F.C.



Título: Distração



repousa o olhar

sobre o mistério das possibilidades –

milagres acontecem

distrações, se repetem, se repetem –

enquanto a vida é feita de ótimos

átimos e oportunidades.



só o infinito acontece

as burocracias

já foram inventadas, inventadas.


&


Do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro: Marco Antônio Tozzato

Pseudônimo: Per-Verso



Título: Outros tempos, outros eram



Por onde estarão os que aqui estiveram?

Outros tempos, outros eram

O tempo desbota, espanta o instante

A foto capta, rapta o precioso segundo

Mas Cronos devora o que cheira a eterno



Toca o sinal; vêm os hormônios, os amores

A história muda, não conta seus segredos

Fica lá, bem lá, aquela infância e suas cores

Vagas apagam da areia do tempo o vago momento



Um dia, no fundo da gaveta e da memória

O significado daqueles olhares estará perdido

Nostalgia, nevralgia; perdemos a era e a hora

Restará então um gosto remoto de dropes

No fundo da língua, perdido; saborosa a mente.



 &



De Vinhedo, São Paulo: Ana Lúcia Pires

Pseudônimo: Anna Lisboa



Título: Ufotógrafo francês (preto e branco colorido)



“Fotografia é a arte de escrever sem espaços e órbitas”.



Olhos arregaçam mangas

E trincam concretos

Quebram telhados

E chegam tão perto

De não sei o que, meninos, não sei o que



Mão no queixo

Pé no outro mundo: amanhã

Pálpebra maciça

Torta de maçã



Sonhos algo dão

Outros não

(eu bem sei)



Olhos descruzam as pernas

E mostram as veias

Que ainda verão - sem sol - bemol



Mundo da rua, meio da lua

- Champs-Elysées ou bolinha de gude?

- Champs de gude, bolinha Elysées!



A vida que se parava, já nela que não pensava

Babando como o ciclope atrás da lente

- Migalha?

-Presente!



Retinas sem (su)foco



Luz

Câmera

Reação

Je vois la vie en rose



Triiiiiiiiiiiiiiimm! Zás-trás!

Lá se vão oito meninos e ufotógrafo brilhante



 &





Do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro: Letícia Simões

Pseudônimo: Alice Lobo



Título: branco e preto



o que foi feito de nós

diante das

palavras que depois

                      vieram?

esse país estrangeiro, o tempo.

o coração batia pouco

mesmo quando estávamos a navegar

continuarias a rasgar ventos?

ainda usas a pedra azul

de amolar as facas

                 e explicações?

eu por aqui não consigo dormir.

talvez seja a breve

recordação de um sonho

             - preso a uma foto de

               robert doisneau


&


Outra (sub) versão

Aos 12, o livro de ciências
Um murro.
Aos 13, a dúvida
O mutismo.
Aos 14, a coerção
O muro.
- - - - - - - -
A outra versão da história
Faz perder o olhar
E ensina a ser
Homem.

(Lohan Lage Pignone)



                                                           HAIKAIS



Nesta etapa, os poetas tiveram que elaborar os famosos haicais, poemas genuinamente japoneses. Vale lembrar que os nossos 12 finalistas foram liberados do emprego da métrica comum aos haicais, bem como da temática (natureza) – tendo ficado facultativo. Já em relação ao título, a organização o classificou como emprego obrigatório. Os haicais serão analisados por Edson Kenji Iura, um dos melhores haicaístas brasileiros da atualidade. Desfrutem desta gostosa leitura, abaixo:






De Nova Friburgo, Rio de Janeiro: Barolo

Pseudônimo: Barolo

Título: Pretérito do futuro



O tempo corre

O futuro acena:

Vai ser bom, não foi?







De Trairi, Ceará: Wender Montenegro

Pseudônimo: Manoel Helder

Título: MENINO POETA ou As asas da chuva



Só tinha dois anos

e me disse, da janela:

– Pai, chuva voando!





De Cabo Frio, Rio de Janeiro: Flavio Machado

Pseudônimo: Dersu Uzala

Título: Aula de moral de cívica



inquietação

mola mestra

das revoluções.





De São Paulo, São Paulo: Henrique César Cabral

Pseudônimo: Gaspar

Título: (diálogo)



enquanto caminha

vai fumando uma conversa

com a névoa fina





De Betim, Minas Gerais: Francisco Ferreira

Pseudônimo: João Saramica

Título: Saci Pererê



Revoada de folhas,

menina segura a saia!

-Moleque danado!





Do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro: Thiago Luz

Pseudônimo: Jean Jacques

Título: Cena de Inverno



Inverno na esquina

E uma lente frígida não enquadra

O mendigo na cena.





De Atibaia, São Paulo: Geovani Doratiotto

Pseudônimo: G.D

Título: Pedido



Bate em mim,

durante a

vida, coração?





De Brasília, Distrito Federal: Lune

Pseudônimo: Lune:

Título: Água pura



Purificação

Na lavagem do Bonfim

Chão, pecado e dor.





De Juiz de Fora, Minas Gerais: Hernany Tafuri

Pseudônimo: Nonada F.C.:

Título: Epopeia



para o cachorro

sob a última árvore

sol sombra cinza.





Do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro: Marco Antônio Tozzato

Pseudônimo: Per-Verso

Título: Orvalho



Feito gota de orvalho

Branca, perolada

Pende a porra do caralho.





De Vinhedo, São Paulo: Ana Lúcia Pires

Pseudônimo: Anna Lisboa

Título: Abismo



Arranha-céus enevoados

Beija-flor da antena avista

Flores de algodão.



Do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro: Letícia Simões

Pseudônimo: Alice Lobo

Título: recife



menino que traz a ressaca nas mãos

aviso:

o meu caos vem com a rebentação



&



Stop!

A parada é gay

O parado é: santo.

O disparado: nem tanto.

(Lohan Lage Pignone)



ANÚNCIO DO TEMA DA PENÚLTIMA ETAPA



CAROS POETAS,



PARA A PRÓXIMA ETAPA, A TAREFA DE VOCÊS SERÁ ELABORAR UM POEMA COM A TEMÁTICA:



“CINEMA”



- TÍTULO E INEDITISMO OBRIGATÓRIOS



- FORMA LIVRE



- PRAZO PARA ENVIO: ATÉ AS 23:59min. DO PRÓXIMO DOMINGO, 05/08/12



- SEM RESTRIÇÕES DE LINHAS E/OU CARACTERES



- O POEMA PODE SER ENVIADO EM ANEXO OU NO CORPO DO E-MAIL






 Comentário de Lohan:

"Será o momento crucial do concurso, a etapa 'Cinema'. E talvez a mais esplendorosa de todas, pois será a união de duas artes que se complementam. Como complementá-las: eis o x da questão. Como escrever um poema no escurinho do cinema? Com quais filmes intertextualizar? Há um leque imenso de possibilidades para os poetas. Sugiro que se aprimorem o máximo possível nesta etapa. Como diz o ditado, 'tudo só acaba quando termina'. Força, poetas!"


E então, poetas e leitores? O que acharam dessa etapa? Quem se saiu melhor?

ATÉ A PRÓXIMA!

AUTORES S/A