POETA: QUAL IMAGEM VALE MAIS QUE MIL
PALAVRAS PARA VOCÊ?
Anna Lisboa
“A imagem de um câncer: Adolf
Hitler. Se posso descrever esse diabo com mais uma metáfora, digo que o ego nunca
foi tão bem registrado.
A imagem da cura: Oskar Schindler,
o salvador de Plaszow. Se posso descrever esse anjo com mais uma metáfora, digo
que me ajudou a renegar o inferno. Como no filme: “Quem salva uma vida, pode
salvar o mundo”.
Per-Verso
“A imagem que vale mais do que mil
palavras seria a minha foto na carteira de identidade. Apesar de mostrar um
rapaz de 18 anos, sem nenhuma expressão e em preto branco, há muitos significados
ali para mim. O início da minha maioridade, os sonhos de uma vida adulta cheia
de realizações. Me pergunto sempre o que estaria pensando naquele momento em
que fui fotografado. Tento decifrar quem era aquele cara que ficou ali, talvez
só ali, naquela foto. Enfim, acho que nem com um milhão de palavras conseguiria
falar sobre aquele simples pedaço de cartolina com minha cara estampada”.
Lune
“A imagem da solidariedade, em
contraposição à imagem da miséria. Ambas valem mais que mil palavras. Há uns
anos, aquela foto do menino africano agonizando, enquanto um urubu aguardava
pacientemente que acabasse de morrer, me deprimiu horrores. Como é possível
tamanha miséria econômica, física e, sobretudo, moral? Então, uns meses depois
(talvez um ano, não lembro bem), fique demoradamente assistindo às imagens de
voluntários salvando vidas sob os escombros de um terremoto. E tendo a certeza
de que (ainda) é possível salvar quando se dá importância ao homem acima de
qualquer coisa. Mantenho as duas imagens sempre no meu álbum mental. A que me
lembra do que o homem é capaz... A que me lembra do que o homem é (igualmente)
capaz”.
João
Saramica
“Um túmulo simples, cercado de
mausoléus riquíssimos e todos paramentados, como convém na época do feriado de
finados, enfeitado com sempre-vivas (uma flor nativa das serras da minha cidade
natal e que custam apenas o esforço de apanhá-las). Eu interpretei desta
maneira: "tu estás sempre vivo (a) no meu coração e esta é a minha forma
de demonstrar um amor verdadeiro, que extrapola o tempo e as dimensões".
Dersu
Uzala
“Essa coisa de que uma imagem vale
mais de mil palavras não tem resposta definitiva, como eu poderia responder com
uma imagem a esse pergunta? Não haveria imagem que traduzisse esse discurso, eu
cultivo uma especial definição ou percepção sobre essa questão de imagem e
palavra, poesia e poema, faço a comparação para tentar explicar, poesia é um
sentimento, uma emoção que pode surgir de uma imagem, e pode virar um poema, ou
não, e ser apenas uma constatação, um sentimento intransferível, e uma imagem
nem sempre vale mais do que mil palavras”.
Jean
Jacques
“Meu filho sorrindo é uma imagem
que vale não por mil palavras, mas por mil poemas. Uma fotografia dele sorrindo
revela minha total incapacidade como poeta: não tenho palavras que retratem a
profundidade do que aquele sorriso representa pra mim”.
Manoel
Helder
“A imagem que para mim vale mais
que mil palavras é a do manifestante chinês que desafiou os tanques em Pequim,
durante o massacre da Paz Celestial, numa foto de Jeff Widener/AP”.
Gaspar
“A imagem de um filho. É
inexplicável. Olho as fotos agora e vejo bem a carinha de joelho, parece mais
enrugado que eu, hoje, aos 59 anos. A língua saindo pra fora da boca, os olhos
muito abertos, como se estivesse vendo um bicho (adivinha quem era o bicho). Como
diz uma amiga “é uma coisinha linda, credo!”. Mas, a vibração, o preenchimento
interior, e sabe-se lá mais o que... Dominam a cena ainda hoje. Nem com mil ou
duas mil palavras se explica. (talvez uma poesia possa explicar com bem menos.
Eu, confesso, nem tento)”.
G.D
“Todas as imagens captadas por
Serguei Mikhailovitch Eisenstein”.
Alice
Lobo
“O azul. Tenho cá para mim que
existe um estado no universo por mim mal-intitulada de "azulzyness",
que é a propriedade do azul de tudo invadir e impregnar de sentimento. Ainda
não consegui descobrir uma palavra (ou uma junção delas) que defina ou explique
o estado do céu logo antes do dia amanhecer completamente. É o poder do azul. E
isso só se revela em imagem”.
Barolo
“Acho palavras e imagens igualmente
poderosas. Há palavras que nos remetem a imagens e imagens que nos deixam sem
palavras".
Nonada
F.C.
“A árvore plantada bem em frente à
janela da sala em que trabalho aqui na UFJF. Ela produz uma sombra maravilhosa,
sob a qual várias pessoas descansam”.
SEJAM BEM-VINDOS A 6º ETAPA DO II CONCURSO DE
POESIA AUTORES S/A: POEMA INSPIRADO EM IMAGEM / HAIKAIS
La Gioconda
E me tomam por Esfinge e esperam
que os devore...
Na ausência de mistério seus olhos
mordem meu riso
- sorriso à prova de fogo - sob as
fundações do Louvre:
se põem à cata vazia dos mistérios
que não tenho.
(Manoel Helder)
Calados enquanto os sigo
Me chamam em quanto medo
Cem com tato, um com alma: Leonardo
O único que não pintei
(Anna Lisboa)
em teus olhos, sempre um risco
- oceano a descortinar
o teu silêncio é de animal
abandonado
(feito daquilo que não pode ser
dito em luz e ar
(Alice Lobo)
Enquanto teus raio-X e petulância
não me alcançam, só arranham
eu só rio, um riso, zombeteiro...
gargalhadas, Leonardo da Vinci.
(João Saramica)
dissimulados recatos
olhos sem arcos de pelos
conquistam rei e gatuno
hipnotizam o mundo
(Lune)
não - não a esperança
apenas a espera previne
dos bocejos do tempo - essa fera
- contra o tempo um sorriso
(Gaspar)
E me tomam por esfinge de propósito
irrevelado
Autorretrato do pintor, alter ego
feminino.
Eu aqui tão protegida sob o vidro
da redoma
Tão pequena em tamanho, que
mistério posso ter?
(Barolo)
desvendar os véus do sorriso
romper a tela em rasgada euforia
romper camadas de tinta
desnudando as falsas aparências.
(Dersu Uzala)
Ela vive e seu sorriso finalmente
desabrocha
Na primaveril loucura de um poeta:
Gargalhada liberta dos limites da
tela
E banhada pelas cores da vida!
(Jean Jacques)
Para que tanto mistério?
É pra te enredar.
E esse sorriso banguela?
É pra te devorar!
(Per-Verso)
Decifra-me ou te ignoro
em meu sorriso oculto, sarcasmo
que a ti dúvidas eleva:
tomam-me por esfinge e me devoram.
(Nonada F.C.)
Este foi o 2º Poema S/A escrito pelos 12 poetas do concurso (com
exceção do poeta G.D). Mais um belo poema, um marco neste certame. Parabéns a
todos os poetas que escreveram inspirados em Monalisa, de Leonardo Da Vinci.
(Paris, 1956; Robert Doisneau)
Robert Doisneau estaria completando 100 anos de idade em 2012. Os
12 poetas finalistas escreveram poemas em homenagem ao fotógrafo francês,
inspirando-se na imagem acima. Observem bem esta fotografia; sejam enlevados
pelo olhar daquele garoto. O que estaria pensando? Estaria sonhando? Alimentando
uma esperança? Dando forma às livres nuvens com seu olhar encarcerado? Viaje
com os poemas que os nossos grandiosos finalistas prepararam! Mas, antes,
alguns avisos:
BÔNUS
DOS LEITORES
O ponto bônus desta etapa será
disputado através dos comentários desta postagem. Para que um voto seja
devidamente computado ao poeta, o comentarista deverá:
-COMENTAR LOGADO EM SUA CONTA DO
GOOGLE (NÃO SERÃO VÁLIDOS COMO VOTO AS OPÇÕES: ANÔNIMO, NOME/URL E OPENID).
-MENCIONAR O NOME, PSEUDÔNIMO OU O
TÍTULO DO POEMA QUE DESEJA CONCEDER O SEU VOTO.
- NAQUINTA-FEIRA, ÀS 18 HORAS, A
VOTAÇÃO SERÁ ENCERRADA COM UM COMENTÁRIO DE ENCERRAMENTO DA ORGANIZAÇÃO. APÓS
ESTE COMENTÁRIO, NENHUM VOTO MAIS SERÁ COMPUTADO.
- O POETA MAIS VOTADO DA ETAPA
RECEBERÁ 1 PONTO DE BÔNUS. EM CASO DE EMPATE, OS POETAS EMPATADOS DIVIDIRÃO O 1
PONTO DE BÔNUS ENTRE ELES.
PREMIAÇÃO
DA ETAPA
O primeiro colocado no Ranking
desta etapa será agraciado com o livro:
“Andrômeda
e outros contos”, de Ruy Espinheira Filho
BÔNUS
DO JÚRI
Os escritores Victor Paes e André
de Leones serão uns dos jurados desta etapa.
O poeta que mais se destacar
positivamente, na opinião de Victor Paes e André de Leones, receberá 0,5 pontos
de bônus.
PONTO-PRESENTE
Mais uma vez, teremos o “Ponto-Presente”.
Vale esclarecer que não ganha o “Ponto-Presente” o poeta mais votado entre os
poetas. Cada ponto concedido pelos poetas para outros poetas equivalem, de
fato, 1 ponto que será somado ao Ranking Oficial posteriormente.
Portanto, nesta etapa, todos os 12
poetas deverão dedicar 01 ponto-presente ao poeta o qual ele considera ter sido
o melhor sucedido no desafio “Poema inspirado em uma imagem” e no desafio “Haikais”.
Ou seja, cada poeta deverá conceder 2 pontos, de acordo com os desafios. Um
mesmo poeta poderá vir a receber os 2 pontos.
O ponto e a justificativa do poeta deverão ser
revelados via e-mail (poesiaautoressa@gmail.com)
até quinta-feira, ao 12:00 hs. Na quinta-feira à noite, todos os pontos serão
publicados no blog e acrescidos ao Ranking Oficial do II Concurso de Poesia
Autores S/A. Embora se trate de uma competição, percebemos que todos vocês
podem trocar, entre si, conhecimento e críticas construtivas, em prol do
crescimento de todos os poetas. Todos vocês, poetas, já demonstraram ser
sujeitos éticos e experts das letras. Sendo assim, vossa opinião é tão
importante quanto. Leiam os poemas dos colegas com calma e enviem seus pontos e
uma justificativa.
POEMAS DA 6º ETAPA: POEMA INSPIRADO NA
FOTOGRAFIA DE ROBERT DOISNEAU
De Nova Friburgo, Rio de Janeiro: Barolo*
Pseudônimo: Barolo
*A poeta prefere não revelar o nome
Título: Dias Felizes
Éramos poucos na sala
Carteiras sobravam
O silêncio reinava nas aulas do
mestre
Réguas batiam na contagem dos
múltiplos
Reguadas ardiam na tabuada trocada
Éramos todos pequenos
O rigor assustava
A tabuleta pedia o cálculo escrito
O cálculo exigia a prova dos nove
Noves fora ecoavam em coro cantado
Éramos todos meninos
A união nos salvava
Sussurros passavam respostas
secretas
Olhos por vezes miravam o teto
Olhares vagavam por toda a sala
Éramos muitos felizes
A alegria brotava
A amizade pintava paredes cinzentas
Risadas cortavam horas do dia
Dias que passaram deixando
saudades.
&
De Trairi, Ceará:
Wender Montenegro
Pseudônimo: Manoel
Helder
Título:
Os olhos de Doisneau e os Pássaros da infância
“E
é cruel surpreender
a
inocência.”
Herberto Helder
“Quando
se vê, já é 6ª feira...”
Mario Quintana
E
vi Doisneau
-
olhos sujos de rua -
tomando
para si
estes
versos de Herberto:
“Alimentava-me
dos
rostos minados pela rede dos nervos...”
Benditos
são os olhos
infantis,
dourados
pássaros
pousados
na
segunda-feira.
Eles
gritam na sala:
abre-te
ábaco!
Noves
fora (cola)
nada
no
olhar ao lado...
E
vi São
Sebastião
na esCol a
in
submetido
aos flashes
de
Doisneau.
E
de repente outro pássaro:
“Agora,
é tarde demais para ser reprovado...“1
1
Verso de Mario Quintana
&
De Cabo Frio, Rio de
Janeiro: Flavio Machado
Pseudônimo: Dersu Uzala
Título:
inspirado em Mário Quintana
(entre o olhar ameaçador do
professor
e a curiosidade do amigo
o menino descobria a poesia)
durante do ano escolar havia a
disputa
de várias modalidades esportivas:
futebol com chapinha de
refrigerante
lançamento de pedras em vidraças
tombos nos professores
levantamento de saias
e a mais acirrada:
o campeonato de peidos.
dividido em duas categorias:
o mais barulhento e o mais
fedorento
os atletas com afinco se preparavam
comendo o que a crendice ou
a ciência indicava para melhorar
o desempenho
os corajosos jurados
julgavam as performances
dando notas e tecendo comentários
a cada semana um campeão
e o grande vencedor ao final de
várias rodadas
tempo feliz o dos jogos estudantis.
De
Betim, Minas Gerais: Francisco Ferreira
Pseudônimo:
João Saramica
Título:
Das Infinitas Possibilidades de Voar
Não é lá que estão
o meu coração
e as estrelas?
Então não me digam
do meu olhar ausente...
Se são meus olhos
de amor distante
que se querem presentes
onde ela está!
De
São Paulo, São Paulo: Henrique César Cabral
Pseudônimo:
Gaspar
Título:
Aulas Mortas
cabeças
são falsos girassóis
cada
olho sonha um ponto em fuga
onda de silêncio
sopra morna sobre o mundo
enquanto a alma se lança
em dança melindrosa
o
mundo vespertino abre a porta
a
teu perturbado ar noturno
o insuperável sabor do voo
num banco duro – o coração
esquece que é matéria
e sonha ...
as
amarras do tempo – as correntes
envolvem
teu corpo de madeira
sonha que é dardo
no encalço de uma ideia
com asas – roçando o azul de leve
o silêncio alto da montanha velha
o
inesquecível sabor das cinzas
seu
lacrimoso alojar no olho
avança um dedo
o pensamento
versava sobre flecha
o arremesso a pressa
outro pensamento serpenteia
oblíquo, por tramas paralelas
sem rastro
a aura suspensa
além-ali o pio
da inocência
o
coração cai placenta adentro
passa
pelo estreito osso do tempo
&
Do Rio de Janeiro, Rio
de Janeiro: Thiago Luz
Pseudônimo: Jean
Jacques
Título:
Olhos Infantes
Avante, olhos infantes!
Segue ele, soldado absorto
Em seu reino íntimo,
Livre entre quatro paredes,
Atestando sua essência de menino.
Avante, castanhos flamejantes!
Segue ele, bárbaro à realidade,
Com a idade rutilante da aurora,
“Dom quixoteando” em sala em aula.
Avante, guerrilheiros da face!
Segue ele, um grito silencioso
Em tom de semblante pilhérico
Sob a turba de concentrados,
Guerreando em si, talvez:
A lição ou a imaginação?
De Atibaia, São Paulo:
Geovani Doratiotto
Pseudônimo: G.D
Título:
Aluno Operário
“Ninguém educa
ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados
pelo mundo”. (Paulo Freire)
Imerso
na (sa) cela de aula,
jaula
aparente,
[observo sentado ecos de mim
livres,]
livro(-me)
didaticamente
do papel em branco.
A
sirene dita o fim do tempo,
escravo
das onomatopeias, GRADE
o
obturador clica: GRADE
-click,
click, clik; GRADE
Eu,
preso à imagem. GRADE
[a lente GRADE
objetiva,
não capta ideias,
nem
sente.
Grades
curriculares
me
prendem.
Circular
do ministério da educação
dita
a diretriz quadrada,
Leio:
“A revolução não será televisionada”
(Citação de
citação)
No
Final
do corredor, ao lado
do
cartaz que pede educação, com amor,
havia
o seguinte recado:
_________________________
Atenção:
G-R-A-D-E
GRAVE
AGUDO
-GREVE.
_________________________
-Quem
não se movimenta-fica.
Escola-fábrica,
Escola-fábrica.
&
De Brasília, Distrito
Federal: Lune*
Pseudônimo: Lune
*A poeta prefere não
revelar o nome
Título:
proclamar
e eu
já não te chamarei criança
porque à língua terá sido recusado
pronunciar perfeição
nem serei verbo em voz
que do sibilar dos sussurros
brotam sinapses
nos vermes que rastejam
em excitada sordidez
na lama que defecam
e eu
afastarei da tua luz de lua cheia
a larva-homem que fareja
a form(a,)usura
e explodirei as bússolas delatoras
e pintarei de piche as janelas
do meu abraço
fazendo eclipse onde esconder
tua inocência impressentida
e eu
já não te chamarei criança
porque à língua terá sido recusado
pronunciar perfeição
mas aos olhos vítreos
bicôncavos
será comandado
imperativamente
proclamar
&
De Juiz de Fora, Minas
Gerais: Hernany Tafuri
Pseudônimo: Nonada F.C.
Título:
Distração
repousa o olhar
sobre o mistério das possibilidades
–
milagres acontecem
distrações, se repetem, se repetem
–
enquanto a vida é feita de ótimos
átimos e oportunidades.
só o infinito acontece
as burocracias
já foram inventadas, inventadas.
&
Do Rio de Janeiro, Rio
de Janeiro: Marco Antônio Tozzato
Pseudônimo: Per-Verso
Título:
Outros tempos, outros eram
Por onde estarão os que aqui
estiveram?
Outros tempos, outros eram
O tempo desbota, espanta o instante
A foto capta, rapta o precioso
segundo
Mas Cronos devora o que cheira a
eterno
Toca o sinal; vêm os hormônios, os
amores
A história muda, não conta seus
segredos
Fica lá, bem lá, aquela infância e
suas cores
Vagas apagam da areia do tempo o
vago momento
Um dia, no fundo da gaveta e da
memória
O significado daqueles olhares
estará perdido
Nostalgia, nevralgia; perdemos a
era e a hora
Restará então um gosto remoto de
dropes
No fundo da língua, perdido;
saborosa a mente.
De Vinhedo, São Paulo:
Ana Lúcia Pires
Pseudônimo: Anna Lisboa
Título:
Ufotógrafo francês (preto e branco colorido)
“Fotografia
é a arte de escrever sem espaços e órbitas”.
Olhos arregaçam mangas
E trincam concretos
Quebram telhados
E chegam tão perto
De não sei o que, meninos, não sei
o que
Mão no queixo
Pé no outro mundo: amanhã
Pálpebra maciça
Torta de maçã
Sonhos algo dão
Outros não
(eu bem sei)
Olhos descruzam as pernas
E mostram as veias
Que ainda verão - sem sol - bemol
Mundo da rua, meio da lua
- Champs-Elysées ou bolinha de
gude?
- Champs de gude, bolinha Elysées!
A vida que se parava, já nela que
não pensava
Babando como o ciclope atrás da
lente
-
Migalha?
-Presente!
Retinas sem (su)foco
Luz
Câmera
Reação
Je
vois la vie en rose
Triiiiiiiiiiiiiiimm! Zás-trás!
Lá se vão oito meninos e ufotógrafo
brilhante
Do Rio de Janeiro, Rio
de Janeiro: Letícia Simões
Pseudônimo: Alice Lobo
Título:
branco e preto
o que foi feito
de nós
diante das
palavras que
depois
vieram?
esse país
estrangeiro, o tempo.
o coração batia
pouco
mesmo quando
estávamos a navegar
continuarias a
rasgar ventos?
ainda usas a
pedra azul
de amolar as
facas
e explicações?
eu por aqui não
consigo dormir.
talvez seja a
breve
recordação de um
sonho
- preso a uma foto de
robert doisneau
&
HAIKAIS
Nesta
etapa, os poetas tiveram que elaborar os famosos haicais, poemas genuinamente
japoneses. Vale lembrar que os nossos 12 finalistas foram liberados do emprego
da métrica comum aos haicais, bem como da temática (natureza) – tendo ficado
facultativo. Já em relação ao título, a organização o classificou como emprego
obrigatório. Os haicais serão analisados por Edson Kenji Iura, um dos melhores
haicaístas brasileiros da atualidade. Desfrutem desta gostosa leitura, abaixo:
De Nova Friburgo, Rio de Janeiro: Barolo
Pseudônimo: Barolo
Título: Pretérito do futuro
O tempo corre
O futuro acena:
Vai ser bom, não foi?
De Trairi, Ceará: Wender Montenegro
Pseudônimo: Manoel Helder
Título: MENINO POETA ou As asas da chuva
Só
tinha dois anos
e
me disse, da janela:
–
Pai, chuva voando!
De Cabo Frio, Rio de Janeiro: Flavio Machado
Pseudônimo: Dersu Uzala
Título:
Aula de moral de cívica
inquietação
mola mestra
das revoluções.
De São Paulo, São Paulo: Henrique César Cabral
Pseudônimo: Gaspar
Título:
(diálogo)
enquanto caminha
vai fumando uma conversa
com a névoa fina
De Betim, Minas Gerais: Francisco Ferreira
Pseudônimo: João Saramica
Título: Saci Pererê
Revoada de
folhas,
menina
segura a saia!
-Moleque
danado!
Do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro: Thiago Luz
Pseudônimo: Jean Jacques
Título: Cena de Inverno
Inverno na
esquina
E uma lente
frígida não enquadra
O mendigo
na cena.
De Atibaia, São Paulo: Geovani Doratiotto
Pseudônimo: G.D
Título: Pedido
Bate em mim,
durante a
vida, coração?
De Brasília, Distrito Federal: Lune
Pseudônimo: Lune:
Título: Água pura
Purificação
Na lavagem
do Bonfim
Chão,
pecado e dor.
De Juiz de Fora, Minas Gerais: Hernany Tafuri
Pseudônimo: Nonada F.C.:
Título: Epopeia
para o
cachorro
sob a
última árvore
sol sombra
cinza.
Do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro: Marco Antônio
Tozzato
Pseudônimo: Per-Verso
Título: Orvalho
Feito gota
de orvalho
Branca,
perolada
Pende a
porra do caralho.
De Vinhedo, São Paulo: Ana Lúcia Pires
Pseudônimo: Anna Lisboa
Título: Abismo
Arranha-céus enevoados
Beija-flor da antena avista –
Flores de algodão.
Do Rio de Janeiro, Rio
de Janeiro: Letícia Simões
Pseudônimo: Alice Lobo
Título: recife
menino que traz a ressaca nas mãos
aviso:
o meu caos vem com a rebentação
&
Stop!
A parada é gay
O parado é: santo.
O disparado: nem tanto.
(Lohan Lage Pignone)
ANÚNCIO
DO TEMA DA PENÚLTIMA ETAPA
CAROS
POETAS,
PARA
A PRÓXIMA ETAPA, A TAREFA DE VOCÊS SERÁ ELABORAR UM POEMA COM A TEMÁTICA:
“CINEMA”
- TÍTULO E INEDITISMO OBRIGATÓRIOS
- FORMA LIVRE
- PRAZO PARA ENVIO: ATÉ AS 23:59min. DO
PRÓXIMO DOMINGO, 05/08/12
- SEM RESTRIÇÕES DE LINHAS E/OU CARACTERES
- O POEMA PODE SER ENVIADO EM ANEXO OU NO
CORPO DO E-MAIL
E então, poetas e leitores? O que acharam dessa etapa? Quem se saiu melhor?
ATÉ A PRÓXIMA!
AUTORES S/A