terça-feira, 27 de março de 2012

Comédia grega

Há poucos dias vi no blog Letrados (www.letradosnf.ning.com) uma publicação de Thaty Brooks, sem texto, apresentando somente um curta de animação, de nome Vida Maria, do diretor Márcio Ramos. Me atrevi a assiti-lo. Daí o que seria apenas um comentário suscitou uma resposta inesperada:     



Meu comentário:

Em oito minutos este curta resume uma tragédia de séculos. Tragédia afônica, sem prédios caindo, cruzeiros naufragando, terremotos, tsunamis, deslizamentos, inundações. Tragédia lenta e calma, como o ritmo da própria animação, quase muda, quase a mesma, do começo até o fim.  

Resposta ao meu comentário:

Caro internauta, 

A vida é isso mesmo, a paisagem é essa mesma, e o povo gosta, senão não seria povo. O povo tem cara, identidade, são os desígnios de Deus, temos de respeitar, não chamar nem nas entrelinhas "de miséria" a vida dessa gente tabalhadora e honesta. Miseráveis somos nós, que vivemos de negar nossos golpes e nossas "franciscanas" negociações. Afinal cultura é cultura, vem do céu, como o sol, a lua, o frio, o calor. A seca. Cultura é coisa valiosa, mas também é qualquer coisa que sirva para nos chamar de gente. É do convívio, mas é da natureza também. É como os índios. É natural que não sejam civilizados. A civilização não é boa, dizimou quase todas as populações ameríndias. Sobrou pouco. O que sobrou é quase índio.  Então para que agora civilizar o feliz nordestino? Instruí-lo para quê? Para o forte sertanejo é tudo natural. Mudar para quê? Cortar as madeixas de Sansão? O sol traz a seca, a chuva inundações e morte, o vento furacões, miséria de ricos e pobres. E ninguém diz que Deus errou, ninguém diz que o céu deve abolir os astros. Por que abolir a vida pacata dessa gente tranquila? Cultura é para ser preservada. Não se macula a cultura do simples com ambições civilizatórias. O nordestino vive muito, vai aos 100, 120. E nós na cidade fartos de mendigar previdência - quer dizer, providência. Estamos fartos de lutar por 15° salários. Vivemos pouco, podendo chegar a0s 70, às vezes aos 80, mas já muito debilitados, sem ar. Pobre de nós, a luta aqui é peia. Letras e instrução é para gente perdida como nós, sem alma, impura. A gente do sertão não, é feliz, nós diplomados às vezes achamos a gente nordestina meio triste, porque não admitimos nossa derrota existencial. Por aqui nos achamos poderosos, capazes da salvação através do conhecimento. Ir à escola é tudo. É nada! O professor é o agente tranformador. É nada! Muitos de nós somos do nordeste também, e achamos que a vida dessa gente nordestina é ruim, que é vida de inseto, sem horizonte. Não, elas gostam de viver assim, é a vida delas, a cultura delas, que não podemos nem desejamos demolir de nossas vistas, afinal preconceito é algo muito feio, discriminação é coisa muito feia. Por outro lado cultura é cultura, é patrimônio, é sagrado, não se toca, não se muda, paisagem tampouco. A vida é assim mesmo, uns com muita coisa para cuidar, muito trabalho chato, carros, imóveis, iates, viagens, mulheres, jóias, trabalheira da porra, coisa sem importância; já outros com o mínimo, mas com muita gente por perto, muitos filhos, calor humano. 

Vejamos: o sol sempre nasce e se põe no mesmo lugar, é sempre quente, sempre o mesmo, mas continua inspirador e atraindo olhares de admiração. Portanto, deixem o mandacaru onde está. Não se compadeçam do que é natureza. Os abutres são carniceiros. Os nordestinos são nordestinos. Assinado: elite brasileira.

Camillo Landoni     

 
            

Um comentário:

Anônimo disse...

Perfeito.
Cada vez mais eugosto desse blog.