segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Comentários e notas (Grande Final - 2º Parte) - Último post do I Concurso de Poesia Autores S/A


(AOS 94 POETAS INSCRITOS - UMA HOMENAGEM)


APRESENTAÇÃO: 


Jurados convidado (segunda parte): Izacyl Guimarães, João Gilberto Noll, Frodo Oliveira e Roberto Bozzetti.

Eis o último post do I Concurso de Poesia Autores S/A! E, para fechar com chave de ouro, trouxemos, como convidados, ilustres jurados. Izacyl Guimarães é crítico literário e já ganhou o prêmio de melhor poeta pela ABL; Roberto Bozzetti é poeta e professor da UFRJ, renomado; Frodo Oliveira é editor-chefe da Editora Multifoco, a patrocinadora do concurso, que irá selecionar os melhores poemas do concurso para a antologia; e, por último, João Gilberto Noll, escritor brasileiro premiadíssimo, com cinco Jabutis, entre outros prêmios. É uma honra recebê-los nesta Final. Ser julgado por homens como estes é, de fato, um presente.

No post anterior, Léon Bloba saiu na frente. Vejamos, a seguir, as entrevistas realizadas com alguns desses jurados, antes dos resultados finais. Boa leitura!

ENTREVISTA COM ROBERTO BOZZETTI

Sou Roberto Bozzetti, carioca nascido em 1956, moro em Mendes, interior do Estado do Rio. Sou professor de Teoria da Literatura na UFRural RJ em Seropédica. Lá  também desenvolvo a linha de pesquisa "Poesia literária e poética da criação", refletindo sobre as questões que aproximam e/ou distanciam essas duas práticas de criação. Meu mestrado e meu doutorado foram dedicados ao tema. A Minha tese de doutorado, que defendi em 2006, inclusive, foi sobre Paulinho da Viola. Um dos projetos são retomá-la, depurá-la, publicá-la em livro (havia um projeto que começou a se desenhar em 2008, inclusive com proposta de uma boa editora, mas acabou não indo a frente). Publiquei há pouco meus dois livros de poesia: A tal chama o tal fogo, que saiu no começo de 2008, e Firma irreconhecível, que saiu no começo de 2010 (embora o ano de edição seja 2009, foi lançado mesmo no começo do ano seguinte). Ambos foram publicados pela editora carioca Oficina Raquel, o que me honra muito, pois é uma editora corajosa, que tem se destacado no lançamento de significativos poetas estreantes (não que eu queira me incluir), inclusive autores portugueses até então desconhecidos no Brasil e que vão repercutindo aos poucos, devido a alta qualidade de sua produção, como é o caso de valter hugo mãe, atração da última FLIP. Além disso, a feitura artesanal dos livros lhes confere um charme todo especial.
Os dois livros saí­ram num perí­odo de tempo curto entre um e outro porque o primeiro reunia na verdade poemas escritos nos anos 80, um projeto de livro que tinha sido na verdade abandonado por mim. Os poemas chegaram ao Ricardo Pinto de Souza, editor da Oficina Raquel, principalmente pela insistência de Marcelo Diniz, amigo e poeta que muito admiro. A partir daí­, Ricardo "adotou" o livro e resolveu fazê-lo. Já o segundo livro foi motivado, sobretudo, pelo fato de eu me ver novamente motivado para o trabalho político com o envolvimento que acabei tendo para que o primeiro saísse (rever os poemas antigos, eliminar os que já não me agradavam nada, dar pequenos retoques em um e outro, etc.) O Ricardo gostou também dos poemas que juntei no Firma irreconhecível  e resolveu editar também este.  No momento pretendo, no plano acadêmico, solidificar as pesquisas envolvendo a criação poética literária propriamente dita e cancional; no plano da criação, vou tocando o blog que ativei há mais ou menos um ano, o "Firma irreconhecí­vel" (http://robertobozzetti.blogspot.com). Ali publico os poemas que vou escrevendo, os poemas de outros poetas de que gosto, umas crônicas, posto canções que amo e que comento, escrevo sobre futebol às vezes... Enfim, vou me divertindo. E penso que a receptividade tem sido bem legal, com alguns leitores fiéis. Mas poderia melhorar: os leitores comentam pouco no blog, preferem vir falar comigo pessoalmente. Isso tem um lado legal, mas faz com que a discussão no blog ande pouco. Assim, vou "experimentando força", que nem Macunaí­ma, até resolver partir pra comer cobra pra valer e encarar de frente um novo livro. Mas não tenho pressa nenhuma disso não. Aliás, ando pensando, para um futuro livro, fazer um trabalho conjunto com o desenhista e pintor mineiro Paulo Sergio Talarico. Propus isso a ele, que gostou da ideia, e aos poucos vamos nos movimentando. E por fim, acho que vou voltar a fazer letra de canção: tenho algumas parcerias com Fred Martins, outras mais antigas com Paulinho Lemos. São dois compositores ótimos, amigos meus, que atualmente moram na Espanha. Foi uma coincidência engraçada estarem os dois lá (eles se conheceram em brevemente e por meu intermédio), um ao Norte e outro ao Sul. Andei convencido durante algum tempo de que não fazia bem letra de canção, mas estou retomando aos poucos. Mandei uma letra pro Paulinho, vamos ver.

Lohan: Olá, Roberto! É um prazer imenso recebê-la nesta final, no Autores S/A. Você já publicou dois livros de poesia, sendo um deles, o "Firma Irreconhecível". Afinal, Roberto, o que é essa firma que não se reconhece?

Roberto Bozzetti: Se você faz questão do “afinal” que puxa sua pergunta...  Um poema é afinal sempre e tão-somente ele mesmo.  Ai só lendo o poema, talvez ajude ouvi-lo também (porque é muito longo), já que  lancei um CD só com ele junto com o livro e o estou postando aos poucos no meu blog.  Ele é afinal, como todo poema, o que nele está escrito.

Lohan: Roberto, quais foram e quais são suas referências e influências literárias? Qual sugestão literária você pode deixar para os poetas desta competição?

Roberto Bozzetti: As referências literárias são inúmeras, vou citar sem preocupação consciente de nenhum tipo de ordenação: Kafka, Machado, Mann, Flaubert, Dostoievski, Graciliano, Jane Austen, Mallarmé, Baudelaire, Gregório, Drummond, Bandeira, Oswald, Lorca, Cabral, Vinícius, Cesario Verde, Augusto dos Anjos, os concretistas, Rubem Braga, Paulo Mendes Campos... Muita gente mesmo, sei lá quem quantos mais. Quanto a influências, devem estar aí entre essas referências, não é?, ou talvez ainda mais precisamente entre aqueles que foram importantes numa determinada fase de formação de leitor e (pretenso) poeta e hoje talvez não sejam tanto.  Mas me acho muito incompetente pra honrar minhas influências.  Agora, além disso, as influências vêm também daquilo que é além do que é literário: vêm do cinema, vêm das artes plásticas, vêm da música, vêm de outros campos da produção de conhecimento.  Acho importante ressaltar isso, as referências (talvez influências) extra-literárias: Degas, Bosch, Caravaggio, Chagall, Van Gogh, os cartunistas, Fellini, Antonioni, Monicelli, Truffaut, Gláuber, Bressane, Arcand, Tarkóvski, Altmann... A extraordinária canção brasileira da geração dos anos 60, Tom, João Gilberto, Paulinho da Viola, Jorge Ben e Jorge Mautner,, Jards Macalé, Chico, Gil, Tom Zé, Caetano... Mais a música de Debussy, de Mozart, de Bartók, dos Stones, enfim, o mundo de que me cerco (falta muita coisa nessa listagem, cito de impulso). 
Sugestão literária no sentido de que autores ler? Bom, acho que o caminho individual de cada um deve ser feito com discernimento, boa capacidade de leitura. Ah sim e ler, na medida do possível, os críticos, as discussões teóricas sobre poesia.  Não ter medo disso é muito importante, até porque boa parte da crítica de poesia (talvez a melhor, acho que Pound e os concretistas têm razão) é feita pelos poetas em seus próprios poemas.  Essa é uma das lições inalienáveis da modernidade, de Poe/Baudelaire pra cá. Além disso, é só evitar levar a sério a leitura de porcaria poética, de má poesia, de livros ruins.

Lohan: Qual mensagem você deixa aos poetas dessa Grande Final? Qual caminho (caso haja) um poeta deve trilhar para ter sucesso nessa carreira?

Roberto Bozzetti: A mensagem já foi ali em cima, não é? É ler ler ler ler ler, escrever, cortar e reservar pra ir decantando. Por aí. Agora, acho fundamental não ter pressa em publicar também, resistir à tentação de ter o livrinho com seu nome e fotinha e tal, curvar-se a essa tola vaidade – a que ninguém é infenso, mas é tola vaidade sim e, obviamente, é ruim.  Legal é ir publicando em blogs, em sites, em veículos para isso (que hoje existem aos montes), abrir-se para discutir sua poesia com outros poetas e não-poetas, discussões que contribuam para o processo de criação.  Mas quando eu digo “abrir-se” é abrir-se mesmo.  Não se melindrar com críticas, não se deixar levar por elogios fáceis, não acabar fazendo do convívio pretexto pra textinhos laudatórios e/ou ressentidos do que e de quem não merece.  Em boa medida, quem faz poesia – quem faz qualquer atividade que envolva produção de conhecimento, seja da forma que for, ainda mais no Brasil  – deve habituar-se sobretudo ao silêncio como resposta.  É um tanto perturbador, mas é concreto. Não tem como fugir. Caminho pro sucesso não sei não, nem estou interessado.  Aliás, nem sei o que está embutido nessa expressão aqui empregada. 

Lohan: Pra terminar, Roberto, o que é poesia?

Roberto Bozzetti: Ah, esse gran finale vai ficar com gosto de anticlímax.  É fatura, como o nome grego indica, é o que se faz com a linguagem.  É a mais aguda forma de consciência de linguagem, como modernamente ficou claro.  É empregar seu esforço em nome do que é belo por ser, entre outras coisas, gloriosamente inútil, num mundo que padece de (foi Nietzsche quem disse? a conferir) excesso de utilidade.


ENTREVISTA COM IZACYL GUIMARÃES FERREIRA


Rio de Janeiro,1930.
Endereços:  Rua  dos  Cariris  400, São  Paulo, SP, CEP  05422-020

Atividades  atuais: Escreve, traduz e comenta poesia. Editor da revista LB Literatura Brasileira, parceria do PEN Clube com a Scortecci Editora

Atividades  anteriores:

-   Agências de  publicidade  no Brasil e no exterior (Estados  Unidos,Uruguai, Venezuela, Argentina, Peru ) entre 1953  e  1977 : redação, planejamento  e direção, nas empresas McCann-Erickson, MPM, CBBA, Salles.           .

-   Direção  de  marketing, Rede  Globo  de  Televisão. 1977-1980.

-   Criação  e  Superintendência  da  Globo  Vídeo, 1981-1983.
 

Formação  acadêmica:

Direito  na  Faculdade  hoje  integrante  da  UERJ, Rio de  Janeiro, 1949-1953.
Letras  na  FNF  da  UFRJ, Rio  de  Janeiro, 1951-1953.
Biblioteconomia, Biblioteca  Nacional, 1953.
Marketing, New  York  University  cmo  “special  student”,1957-1958.

 

Lohan: Olá, Izacyl! É um prazer imenso recebê-la nesta final, no Autores S/A. Em 2007, você foi premiado, com o livro "Discurso urbano", 
pela Academia Brasileira de Letras como o melhor livro de poesia do ano, por unanimidade, recebendo o prestigioso "Prêmio ABL de Poesia" em julho de 2008. Qual é a sensação de ser premiado pela ABL? Teria sido este o auge de sua carreira como escritor?

Izacyl: A sensação de ser premiado é ótima. E pela ABL, maior ainda o prazer. Fui premiado logo já na estreia, em 1953, com o Hipocampo, prêmio pra inéditos em livro,  fechando as Edições Hipocampo, de Geir Campos e Thiago de Melo. Edições de luxo,manuais,para assinantes,cento e poucos exemplares,até então só de grandes autores(Drummond,Bandeira,Guimarães Rosa etc  - veja no Google.) Desde então recebi umas  menções honrosas, em 71 num concurso da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo, prêmio "Governador do Estado de S.P."depois num Jabuti da Cãmara Bras.do livro e logo após  no internacional "Casa de las Américas",de Cuba. Não penso em "auge". Prêmio é bom mas não é essencial. Só me inscrevi empurrado por amigos,nas três menções. O prêmio da estreia também,por insistência de meu professor na FNF, José Carlos Lisboa. O da Academia não tem inscrição. Foi surpresa e soube por telefonema de Lêdo Ivo.

Lohan: Você também atua como crítico e participa de diversas bancas de jurados. Embasado nessa sua experiência, qual seria a maior dificuldade de julgar um trabalho literário? A subjetividade atrapalha a prevalência da análise técnica?

Izacyl: Julgar é sempre difícil. E errar é comum. Andre Gide não quiz publicar Proust... Fernando Peesoa perdeu "Mensagem" par um anônimo já esquecido... Se gosto- porque me comove ou me impressiona-releio e depois comparo com os outros concorrentes. E decido. Se em comissão, ouço os outros membros antes de decidirmos em comum acordo.

3. Izacyl, é verdade que você foi aluno de Manuel Bandeira? Conte-nos um pouco sobre essa experiência e o que ela representou para você como pessoa e profissional das palavras.

Izacyl: Ter ouvido MB, ter conversado com ele, fantástico. Devia ter ouvido mais, conversado mais, aprendido mais. Mas era um jovem tímido e me assustei. Conto a experiência num poema que você lê na minha Antologia, "Lembrança do mestre". Num par de críticos leio que eu soube capturar alguma coisa do jeito dele.

4. Qual mensagem você deixa aos poetas dessa Grande Final? Qual caminho (caso haja) um poeta deve trilhar para ter sucesso nessa carreira?

Izacyl: Não sei. Nunca persegui sucesso, sempre fui discreto, pouco lido. Quem merece acaba sendo descoberto...

5. Pra terminar, Izacyl, o que é poesia?

Izacyl: Nunca soube responder isso. Ou se escreve muito e se dá exemplos ou se tenta chegar perto de uma resposta satisfatória. "...se faz com palavras",disse Mallarmé a Degas,"é um "não sei quê" disse Bécquer, teóricos gastam toneladas de papel tentando explicar etc etc. Como toda arte - pintura, música, etc - o receptor educado reconhece ao contato. Mexe com a pele, o coração se mexe,o leitor se arrepia etc. Outro poeta disse que é como Deus, ou o amor. Não se nomeia mas se sabe o que é e, sobretudo, digo eu, o que não é poesia... "Emoção recolhida em tranqüilidade", foi dito por Tenyson, se não me engano. Pound: "Literatura é linguagem carregada de significado" . Daí pode-se dizer,talvez, que Pound acharia que poesia seria isso em grau máximo. Octavio Paz escreveu centenas de páginas sem chefiar a um verbete. Não pretendo resolver o impasse. 


ENTREVISTA COM FRODO OLIVEIRA

Frodo Oliveira é poeta, revisor, organizador e editor-chefe da Editora Multifoco. Formado em Letras, apaixonado por livros, cinema, música e cultura em geral. Fã de Ficção Científica, Mistério, Terror, Fantasia e todos os demais subgêneros da literatura. Espero sinceramente poder contribuir para que eles, um dia, alcancem o status de arte, como convém a todo tipo de literatura. Página da web: www.recantodasletras.com.br/autores/frodooliveira

Lohan: Olá, Frodo! É um prazer imenso recebê-lo nesta Final, no Autores S/A. Poeta, contista e editor-chefe da Editora Multifoco. Sua presença nesta Final representa muito para os poetas, que sonham com esta publicação. Frodo, como você observa o mercado editorial hoje em dia? Ficou, de fato, mais fácil editar um livro? Como se dá o processo de seleção das obras para chegarem no ponto de publicação?

Frodo: Olá, Lohan. De fato, o advento da impressão digital barateou e democratizou de uma forma que, hoje em dia, só fica com seus textos na gaveta o escritor que assim o deseja. Não que isso signifique que ele será um sucesso, um novo Paulo Coelho ou Manuel Bandeira. Mas as chances de isso acontecer são maiores hoje em dia do que eram há 15, 20 anos. Para ter uma obra publicada (e aqui falo pela editora para a qual trabalho, a Multifoco), basta enviar o texto e aguardar pela avaliação, que leva em média 30 dias. No caso de aprovação, o contrato é enviado, espera-se, em média, entre três e seis meses para o livro ficar pronto.

Lohan: Frodo, você revela ter um carinho especial pelas antologias. A Multifoco publicará uma antologia dos melhores poemas deste concurso, que surpreendeu pela qualidade dos poemas, diga-se de passagem. Como surgiu essa ideia do selo anthology e porque essa preferência pelas antologias? 

Frodo: Não é que seja uma preferência pelas antologias, apenas que elas são uma boa forma de lançar novos autores que ainda não tem material para um livro completo. Eu comecei publicando em antologias, então, como seria lógico, gosto de editá-las, dar a outros autores em início de carreira a mesma oportunidade que um dia recebi do meu amigo Edson Rossatto, da Andross Editora. É graças a ele que hoje, como editor-chefe da Multifoco, estou publicando quase 50 livros por mês.


Lohan: Qual é a vantagem de publicar, hoje, na Multifoco, em comparação às outras editoras? A Multifoco veio para revolucionar o cenário editorial do Brasil? Por quê?
 
Frodo: Não somos melhores que ninguém, creio apenas que é uma proposta diferente das apresentadas por outras editoras por demanda. Claro, sou suspeito para falar! (rs!), então prefiro que os próprios autores e leitores falem por nós.

Lohan: Qual mensagem você deixa aos poetas dessa Grande Final? Qual caminho (caso haja) um poeta deve trilhar para ter sucesso nessa carreira?

Frodo: Bem, mesmo que não vençam, não se sintam perdedores. Quando se participa de um concurso e se consegue chegar a grande final, todos já venceram. Lembrem-se também que a ralação começa agora, porque publicar, apesar de ser a meta de qualquer escritor, de qualquer gênero, não é o final da historia, mas sim o início dela. Preparem-se para a luta, ainda mais vocês que são poetas, porque não é fácil ser poeta no Brasil.

Lohan: Pra terminar, Frodo, quero agradecê-lo pela atenção dispensada, sempre, e por ter negociado esta antologia do concurso conosco. E pra fechar com chave de ouro... O que é poesia, caro Frodo?

Frodo: Poesia, Lohan, é conseguir tocar a alma das pessoas utilizando-se apenas de palavras para isso. Não é uma tarefa das mais fáceis, porque para tocar fisicamente o próximo, você só tem de usar as suas mãos, mas para tocar o coração você tem de usar a sua sensibilidade, a sua vivencia e sua inteligência. Se um poeta consegue emocionar o leitor, ele fez poesia; caso contrário, foi apenas mais um texto.

JOÃO GILBERTO NOLL

Obs: Noll não pôde conceder entrevista nesta ocasião.

João Gilberto Noll nasceu em 1946 na cidade de Porto Alegre (RS). Em 1969, após ter abandonado o Curso de Letras na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, muda-se para o Rio de Janeiro, onde começa a trabalhar como jornalista nos jornais “Última Hora” e “Folha de São Paulo. Em 1970, publica seu primeiro conto na antologia “Roda de Fogo”, organizada por Carlos Jorge Appel, de Porto Alegre. Transfere-se para São Paulo, indo trabalhar como revisor da Cia. Editora Nacional. Retorna ao Rio e à “Ultima Hora”, em 1971, onde escreve sobre teatro, literatura e música. No ano de 1974 volta aos estudos de Letras e, no ano seguinte, leciona no Curso de Comunicação na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Em 1980, um ano após concluir o Curso de Letras, publica seu primeiro livro, “O cego e a dançarina”. Recebe os Prêmios “Revelação do Ano”, da Associação Paulista de Críticos de Arte, “Ficção do Ano”, do Instituto Nacional do Livro e o “Prêmio Jabuti”, da Câmara Brasileira do Livro. 

Outros livros do autor:

1981 – “A fúria do corpo” 
1985 – “Bandoleiros” 
1986 – “Rastros de verão”
1989 – “Hotel Atlântico”
1991 – “O quieto animal da esquina”
1993 – “Harmada” (Prêmio Jaboti)
1996 – “A céu aberto”  (Prêmio Jaboti)
1997 – “Contos e romances reunidos”
1999 – “Canoas e marolas”
2002 – “Berkeley em Bellagio"
2003 – “Mínimos múltiplos comuns”
(Prêmio Ficção da Academia Brasileira de Letras; Prêmio Jaboti de melhor capa e o segundo lugar para livro de contos e o Prêmio  ABL de Ficção 2004)
2004 – “Lorde”  (Em 2005, na edição 100 da revista Bravo! (oito anos de vida - dezembro 2005), “Lorde” apareceu como um dos 100 melhores livros em 8 anos).
2005 – “A máquina de ser”
2008 – “Acenos e afagos” (Segundo lugar no Prêmio Portugal Telecom e Prêmio Fato Literário, em 2009).
2010 – “Anjo das ondas”

Recebeu vários prêmios internacionais, teve livros lançados da Inglaterra, foi bolsista e professor convidado na Universidade de Berkeley – E.U.A. Ainda neste ano, Noll inaugura o ciclo "Uma noite com Pessoa", tornando-se o primeiro escritor a dormir no quarto onde o poeta viveu durante os últimos 15 anos de sua vida. Os textos sobre essa noite virarão um livro.

COMENTÁRIOS E NOTAS DA GRANDE FINAL - SEGUNDA PARTE:


Pseudônimo: Léon Bloba
Poema: Caleidoscópio

Izacyl G.: Bem armado mas algo hermético,não chega a emocionar,embora o autor demonstre seu bom 
domínio verbal. Talvez a obrigação do tema tenha comprometido naturalidade do texto.
NOTA: 7

Roberto B.As qualidades deste poema estão nas imagens que o poeta por vezes logrou atingir, quando se “conformou” em ater-se à imagem, e não à explicação da imagem.  Exemplifico: imagem: “onde possuo buscas/e nada se atém”. “Possuir buscas” é possuir o nada que é a imagem, é um des-possuir-se, que a própria imagem retém enquanto tal, sinalizando uma inquietação que dá a tensão própria da linguagem poética.  Mesmo o verso seguinte “e nada se atém”, pelo emprego pouco comum do verbo “ater”, significando, quero crer, reter, mantém o tanto de enigma que cabe na imagem poética (um emprego mais corriqueiro do verbo aqui enfraqueceria a imagem); exemplifico agora o que vejo que “explicação da imagem” (que sempre enfraquece o poema): “Líquida modernidade/escorre fluida...” em que o adjetivo colado à abstração “modernidade” a enfraquece (por obviedade) e, pior, se torna francamente redundante em “fluida”, que “escorre etc”. ou seja, o poeta ora logra bom resultado imagético, ora enfraquece seus próprios ganhos.  Pela oscilação excessiva o poema como um todo acaba perdendo sua força máxima, aquela que poderia almejar.
NOTA: 7,5

Frodo O.Percebe-se claramente o esforço do poeta para fugir das rimas fáceis e marcadas, dando preferência à rima inesperada e bem pesquisada.
NOTA: 9

João Gilberto Noll: Foi o poema que achei que é o que tem o maior sentido da palavra poética, seu ritmo, vocabulário inusitado. É o que expressa mais maturidade no uso do ritmo e do vocabulário.
NOTA: 7

Pseudônimo: O Velho
Poema: tempos modernos


Izacyl G.: Algo original na abordagem, ao "datar" o texto na visão contemporânea do assunto, traz ainda a virtude da visualidade das imagens.

NOTA: 7,5

Roberto B.: Um tanto do que entendo como problemático no poema de Bloba se repete aqui: a tendência para explicar as imagens (para que não pareça que vejo isso como uma fraqueza absoluta da linguagem poética, deixo claro que essas explicações podem chegar a resultados brilhantes nas mãos de um João Cabral, que submete o procedimento da “explicação” aos mesmos procedimentos  a que submete as imagens “explicadas”.  Mas a lição de Cabral é árdua e ela mesma cheia de armadilhas... mas isso seria outro assunto; só quero deixar claro aqui que a “explicação” não é sempre necessariamente um defeito em poesia).  Dessa forma, para exemplificar também no poema leio a primeira estrofe: “homem discreto, pretérito, perfeito” (ótimo achado des-automatizador esse, atingido apenas pela vírgula bem posta), mas a meu ver se perde tal efeito com os versos seguintes: “controle remoto:/seu destino em sua mão...” que, pela explicação óbvia perde seu potencial irônico (lembro aqui de um ótimo achado do compositor Otto sobre o tema: “Acabo de comprar um TV a cabo/acabo de entrar pra solidão a cabo”: cito de memória, tenho dúvida quanto ao verbo “entrar”, desculpem se me engano).  Um dado interessante mais presente aqui neste poema do que no do Bloba é a proposta de nomear os objetos do mundo como correlativos do tema da “solidão contemporânea”: aqui estão o controle remoto, o mouse, o HD etc. Particularmente eu gosto desse tipo de procedimento, mas me permito perguntar se o dado altamente perecível desses objetos escolhidos não acabará por datar o poema em demasia, ao invés de fortalecê-lo.  Veja-se o final do poema, seus três últimos versos: depois da ótima enumeração à la Drummond “poemas do Bloba, comida, remédios” , o que vem a seguir enfraquece: “mora no prédio cercado de grades” (talvez a supressão da palavra “prédio” minorasse um pouco o problema), que é explicitamente nomeado “Residencial da Felicidade”.  De novo: o efeito irônico acaba por se perder devido à redundância.
NOTA: 7,5

Frodo O.: Poesia interessante pelo retrato que faz da solidão trazida pela modernidade, perde apenas pelas rimas mais comuns que a anterior.
NOTA: 8,5





João Gilberto Noll: Incorpora os signos do contemporâneo.
NOTA: 6


 
Pseudônimo: Léon Bloba
Poema: Assalto

Izacyl G.: Boa construção, quer do tema, quer do texto, num tecido narrativo seguro, que se ajusta bastante bem à visualidade das imagens. 
NOTA: 8


Roberto B.: A força das imagens neste poema suplanta, a meu ver, seus problemas.  Por exemplo, “quando as plêiades/e as anêmonas/dançam juntas/procurando devorá-la” é uma ótima passagem.  Mas ainda há – embora bem menos do que no poema dele mesmo, Bloba, anterior – passagens uns tanto redundantes.  O final é bem achado como construção, mas acho ser ingênuo enquanto concepção: a ilusão de que o poeta “prende” a poesia no poema é daquelas coisas com as quais não há como concordar.  Mas repito: é coerente com o desenvolvimento do poema e eficaz formalmente como fecho do texto. 






NOTA: 8

Frodo O.: Poemas de rimas soltas, nem sempre presentes no verso. Não que seja um demérito, mas o tema ficou um tanto confuso na exposição das ideias.
NOTA: 8

João Gilberto Noll: Tem uma narratividade interessante.
NOTA: 6

Pseudônimo: O Velho
Poema: me oriente

Izacyl G.: Texto leve na estrutura e na linguagem, parecendo mais pessoal que preso à temática do concurso.
NOTA: 7

 
Roberto B.: Neste poema a primeira estrofe é ótima, fundamentada nas enumerações (de novo) à la Drummond.  Mas sinceramente não sei se me desentendo de entendimento ou de discordância mesmo com a estrofe que o fecha.  Quero dizer, com toda sinceridade: não sei se a entendo.  Como a entendo (vá lá...),  me incomoda (no mau sentido) essa solidão um tanto narcísica demais do poeta a “seguir como o único/ a tentar entender” a poesia.  Esse centramento excessivo no eu me parece desfocado aqui.  Mas aí é uma discordância de fundo ideológico, talvez não seja para se levar tanto em conta.  
NOTA: 8,5


Frodo O.: É um poema correto, porém sem novas rimas ou ideias.
NOTA: 8,5

João Gilberto Noll: Este poema demonstra graça e leveza.
NOTA: 6


 
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
 
 
 
 


TOTAL (SEGUNDA PARTE):

LÉON BLOBA: 30,5 (Por "Caleidoscópio") + 30 (Por "Assalto") = 60,5

O VELHO: 29,5 (Por "tempos modernos") + 30 (Por "me oriente") = 59,5

AGORA, O RESULTADO FINAL:

LÉON BLOBA: 81




AGORA, O RESULTADO FINAL:
 
LÉON BLOBA: 81 (Por "Caleidoscópio") + 80,5 (Por "Assalto") = 161,5 + 5 pts.-bônus = 166,5 pts.
 
O VELHO: 80 (Por "tempos modernos") + 79 (Por ''me oriente'') = 159
 
CAMPEÃO: LÉON BLOBA, COM 166 PONTOS.
 
VICE-CAMPEÃO: O VELHO, COM 159 PONTOS.
 
DO RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO: LÉON BLOBA, 23
 
ANOS DE IDADE, É O CAMPEÃO DO I CONCURSO DE
 
POESIA AUTORES S/A. PARABÉNS, LÉON BLOBA!
 



 

Que a poesia faça parte eternamente de sua vida. Você faturou: 1 certificado; 1 caderno Moleskine; uma cesta de livros; uma assinatura, por dois anos, da revista Conhecimento Prático Literatura; garantiu, no mínimo, sete poemas na antologia poética; e já se tornou um autor s/a! 

Parabéns também ao poeta O VELHO, que perdeu por uma diferença mínima de pontos. Aliás, ninguém sai perdedor. O VELHO também passa a ser AUTOR S/A, além de garantir, no mínimo, cinco poemas de sua autoria na antologia poética.

O Autores S/A agradece a todos pela mega participação no concurso: poetas, jurados, leitores, enfim... Vocês foram os protagonistas!


TOP 17 (O VELHO E O TEMPO): 

O VELHO (3º LUGAR)
LÉON BLOBA (14º LUGAR)

TOP 15 (HAICAIS):

O VELHO (5º LUGAR)
LÉON BLOBA (10º LUGAR)

TOP 13 (CRÍTICA SOCIAL):

O VELHO (7º LUGAR)
LÉON BLOBA (3º LUGAR)

TOP 11 (O SERTÃO):

O VELHO (4º LUGAR)
LÉON BLOBA (3º LUGAR)

TOP 9 (POEMA BASEADO EM IMAGEM):

O VELHO (1º LUGAR)
LÉON BLOBA (3º LUGAR)

TOP 7 (POEMA EM HOMENAGEM AO AUTOR FAVORITO):

O VELHO (6º LUGAR)
LÉON BLOBA (1º LUGAR)

TOP 5 (SONETO):

O VELHO (3º LUGAR)
LÉON BLOBA (1º LUGAR)

TOP 4 (PAI - UMA HOMENAGEM):

O VELHO (1º LUGAR)
LÉON BLOBA (2º LUGAR)

TOP 3 ("AI, O AMOR... HUM, O SEXO!"):

O VELHO (1º LUGAR)
LÉON BLOBA (2º LUGAR)

GRANDE FINAL:

LÉON BLOBA (CAMPEÃO)
O VELHO (VICE-CAMPEÃO)

Ficamos por aqui. Mas, antes, deixamos um mega presente para todos vocês, abaixo: um encerramento com chave de ouro.

POESIA É ALMA...
                                                                      VIVA A POESIA!




(Logotipo: Camillo Landoni)


(Multifoco - A patrocinadora do Concurso)

Organização:

LOHAN LAGE PIGNONE (Idealizador e organizador)
CAMILA FURTADO (Organizadora)
SIMONE PRADO (Editora de revistas e vídeos)
CAMILLO LANDONI (Logotipo do concurso - A Pena)