domingo, 26 de setembro de 2010

das mãos sem moldura

Com seus olhos fechados
Do canto escuro do quarto
A poesia vem zombar de mim

Me atira seus letreiros
Ignora meus medos
Ri da minha falta de confiança

Vem sacudindo meus ombros
Riscando meus livros
Revirando a mesa

Revolve meu lixo
Abre meus armários
Atira em minhas feridas

Descobre meus atos falhos
Sussurra todos os meus erros
Gargalha da minha ignorância

Como amante traída
Rasga meus objetos
lança fora minhas mortalhas

Ácida, chuta minhas portas
Verte seu veneno
Despe minha roupa profana

Avilta meus sapatos
Estilhaça minha vidraça
Esbofeteia meus anseios

A poesia, essa mãe santa
me quer então por inteiro
tão puro feito criança.

2 comentários:

Ana Beatriz Manier disse...

E mesmo de olhos fechados consegue ver a criança e tenta resgatá-la a todo custo.

Lohan Lage Pignone disse...

Nossa, Dani... Nunca li nada igual em se tratando de inspiração. Foi o que interpretei, na verdade... Não seria bem um inspirar-se, mas um ser resgatado pela poesia, que em seu poema, materializa-se e destrói tudo a sua volta, a fim de tê-la inteira, somente para ela. Uma amante insaciável.

Incrível seu poema, uma descrição forte, perfeita desse embate entre poeta e poesia.

Perfeito, meus sinceros parabéns.