quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Aos Autores S.A, Feliz 2010!!!

Olá!




Esse vídeo é uma pequena homenagem que fizemos para vocês, dedicados Autores S.A!!
Um grande beijo e um abração a todos com muito carinho, pois vocês  merecem.
Feliz Ano Novo!!





Música: Scrivimi (Renato Russo)

Vídeo produzido por Lohan Lage e Simone Prado

OS MELHORES DE 2009 NO AUTORES S/A - ESPECIAL DE FINAL DE ANO

(Por Lohan Lage Pignone)

Meus amigos, autores, leitores, seguidores, comentaristas, enfim, todos que fazem parte de alguma forma desse querido blog, o Autores S/A!
Lá se vai 2009. Ano de muitas reviravoltas climáticas, ano “gripado”, ano da morte do rei do pop, ano carioca, ano do hexa-campeonato do Mengão... Ano do nascimento de um blog chamado Autores S/A.
Nasceu no dia 12 de julho, tendo como postagem inaugural um texto escrito pela autora Camila Furtado: Sociedade Anônima. O blog foi fundado por seis autores: Camila Furtado, Lohan Lage, João Luiz, Juliana Kunzel, Andréa Amaral e Karina Aparecida. No decorrer do tempo, outros autores foram sendo convidados, como Luciana Maturana, Ernesto Ulysses e Sidarta Cavalcante. Os dois primeiros se despediram do blog, retirando seus textos publicados. Sidarta veio para dar “vida nova” ao Autores, e tal expectativa foi conquistada com louvor. Até hoje ele continua nos prestigiando com seus textos e sua opinião concisa e pertinente a respeito de muitos fatos.
Há pouco mais de um mês, o blog recebeu a adesão de mais sete autores: Cacarina, Edson Basílio, Eduardo Trindade, Dani Santos, Mauri Oliveira, Rayanna Ornelas .
Hoje formamos um time de quatorze autores. Um time que tenho orgulho de fazer parte. Autores maravilhosos, puro talento. Autores que, com certeza, um dia, terão cada um sua obra publicada, e apreciada pela crítica. O Autores S/A reflete talentos até então despercebidos no cenário literário brasileiro. Trata-se de um blog que, a meu ver, prepara o autor a cada postagem por ele publicada ou lida. Aprimora sua escrita, seu modo de ler.
São inúmeros os aprendizados que colhi, e continuo assimilando, do Autores S/A. É mais do que uma simples leitura, ou escrita: é uma convivência permanente. Um laço que para mim se tornou intrínseco, mágico. Uma troca constante.
Torço muito pelo crescimento do Autores. O reconhecimento que cada um de nós merecemos. Torço pelo livro, que se Deus quiser, (e nós, claro, rs), vamos conseguir publicar, tendo como título o nome do blog.
Cinco meses de vida... E quanta história o Autores S/A já tem pra contar! Nos “anais” da história do blog, destaco momentos interessantes, como os grandiosos debates acerca do nosso país, da consciência negra, das Olimpíadas, etc... Queria eu que todos tivessem a oportunidade e a vontade de acompanhar esses debates, os quais me enriqueceram e muito como cidadão-pensante.
Momentos como aquele em que Juliana postou um texto onde se dizia grávida (pura ficção), chamado “Meu desejo clandestino”, e, todos, inevitavelmente, interpretaram como se fosse verdade, rs. Momentos como a postagem exclusiva do grande professor Reinaldo Kelmer! Momentos como a aparição misteriosa de uma certa pessoa chamada “Anônimo”, que deu o que falar quando postou a primeira crítica do Autores. Quem não lembra do “historinha pra boi dormir”, comentado no texto “Conto de Fatos”, da Camila? Quem não viu o mesmo “Anônimo”, recentemente, postar comentários como se fosse Papai Noel?
Qual autor não vibrou com o selo do Vejablog, o primeiro ato de reconhecimento do nosso talento? E quantas pessoas não esperaram pelo meu post um dia depois da homérica discussão que, infelizmente, aconteceu no blog, entre mim e o Ernesto? E, àqueles que acompanharam “O homem que queria ser outro”, o “livro do blog”, rs, quem não sentiu vontade de matar Euclides? Quem nunca sentiu nem um pouquinho de medo da Camilíssima por conta de seus textos sanguinolentos? (brincadeira, Camila, rs). E quem nunca parou pra refletir sobre os temas lançados pelo João? E os risos provocados pelo humor inigualável de Andréa e Juliana? E a singeleza da Karina, da Dani, da Rayanna e da Simone? Quem não estranhou o “Videopoema” do Edson Basílio, grande inovador literário? Quem não se contagia com a alegria de viver da Cacarina, ou com a força presente nos textos do Edu, ou com as palavras denunciadoras e marcantes de Mauri? E, pra finalizar essa sessão “remake”, quem não sente falta da Camilíssima aqui no blog? O sumiço dela, o qual compreende-se, obviamente, só faz aumentar a vontade de lê-la, e devorá-la ainda mais! (literalmente falando..., rs).
Enfim, muitos acontecimentos marcantes fazem parte do nosso blog. Que 2010 seja tão movimentado quanto esses primeiros cinco meses de vida do blog em 2009!
Fiz uma “viagem” no blog. Retornei, até o primeiro post, e me pus a ler todos, novamente. Recordei frases maravilhosas, reavivei emoções adormecidas, risos aprisionados. É uma pena que, de certo modo, esses textos se percam no baú do blog, sendo deixados para trás em prol dos textos mais recentes. O sistema do blog é cruel nesse sentido. No entanto, nada nos impede de voltar, e relembrar, e ler, como fiz agora. Para quem faz parte desde o início, dá uma sensação nostálgica incrível!
Sugiro que, antes que esse ano termine, façam isso. E, ao fazer essa “viagem”, mergulhei numa idéia; uma idéia de homenagem ao blog. Das 215 postagens, pensei em selecionar as 60 que mais me marcaram. É algo pessoal mesmo, algo que destaquei a meu gosto, sem o intuito de criar uma competição, ou algo parecido. Vejo como um modo de reacender a chama de alguns textos que estão lá trás, esquecidos, empoeirados, e que não merecem isso. Escolhi com base em minhas sensações ao lê-los, e também considerei o momento em que foram escritos e as imagens que os acompanham, as quais contribuem e muito para a grandeza do que está sendo proposto. Escolhi não através de critérios vinculados à qualidade literária, mas sim, aqueles que mais me cativaram particularmente, tanto como leitor, tanto como autor. Parabéns a todos.
Eis o meu top sixteen do Autores S/A (Com o nome dos autores, comentários de minha autoria e links de acesso aos textos):


TOP 60 DO AUTORES S/A

60º - Vida nova – Karina Aparecida


Vindo de uma “pobre menina dócil”, isso é um grande passo para a transgressão! Revolta na veia! A imagem que integra a poesia complementa o que digo.

59º - Luz nossa de cada dia – Sidarta Cavalcante

Um texto de uma pessoa iluminada.

58º - Limpeza no coração – João Luiz


Faxina de maus sentimentos é com João mesmo. E a imagem... A imagem nota dez!

57º - Nanopoema, o menor poema do mundo – Edson Basílio

Acharam que eu ia deixar a mais nova palavra do vocabulário português de fora dessa lista? Existo ou “dexisto”?
56º- Sobre independência, dependência, autonomia e interdependência – Sidarta Cavalcante

Quem se arrisca a definir de maneira tão concisa e poética essas palavrinhas todas do título? Eis um texto no melhor estilo sidartista!

55º - Tempo – Karina Aparecida


Poesia que despertou a curiosidade geral da nação: quem é este que o tempo não traz (rs)? E, segundo Ernesto, uma obra de arte...

54º - Eu, autor? Quero sim! – João Luiz


Grande texto de estréia do nosso amigo João.
53º - Dear Santa Claus – Juliana Kunzel


O melhor texto natalino do blog. Rendeu até um comentário misterioso, de um tal Papai Noel Anônimo... Papai Noel só existe no anonimato mesmo...

52º - O amor que podia ter sido – Lohan Lage

Minha faceta Lord Byron, como muito bem definiu a Thaty.

51º - Uma nova mensagem, Camila Furtado

“Amigo é o caralho” é a frase do blog. Fato.

50º- Sobre a restauração do afeto nos atos de libertação sexual em busca da preservação da libido – Andréa Amaral

Quem desejar ler essa obra-prima do erotismo, precisa ler os dois capítulos que antecedem a este. Texto de final excepcional! Tabu abaixo de zero.


49º- A responsabilidade bate à porta – João Luiz


Uma grande lição de como adquirimos responsabilidade ante as diversidades da vida. Um texto que demonstra o que é ser jovem, o que é ser adulto, o que ser pai, e o que é ser um homem de caráter.
48º - Andorinha – Karina Aparecida

Andorinha foi publicada no auge da discussão nacionalista do blog. Apaziguou os ânimos, e deixou um recado que também marcou: “Queria ser como andorinha, porque só quando somos mais, é que somos um”.
47º - Estranho – Edson Basílio

Um texto estranho? Sim, e que maravilha! Criatividade é o sobrenome desse autor.

46º - O Brasil é muito grande para se preocupar com Honduras - João Luiz

Concordo! João, mais um texto que gerou uma grande polêmica no blog. Vale ressaltar a abordagem detalhada das belezas do nosso país. Isso que eu chamo de *texto-imput! *(What???)

45º - Mais um sonho... – Camila Furtado

Isso que eu chamo de uma grande sonhadora. Imagem, texto, e principalmente, música perfeita. Uma combinação que me encantou.

44º -Sem título – Andréa Amaral


Esse texto mostrou que a Andréa já é boa no que faz há muito tempo... Massacrante.

43º - Rostáusea – Sidarta Cavalcante


O segundo texto do nosso amigo Sidarta. Suamos para entendê-lo! Repleto de anagramas (Descubram o do título!), poético... Isso que eu chamo de uma obra de arte! Seu nome não seria Sidarte?

42º - Gaiola – Mauri Oliveira

Sobre um ser cativo, por dentro e por fora; uma poesia cativante, por completo.
41º - Ponte – Karina Aparecida

A poesia que mais aprecio da Karina.

40º - Sintomas – Rayanna Ornelas


Pra quem ainda se sente naquela dúvida, se é ou não paixão, “Sintomas” é o melhor manual do apaixonado do blog.

39º - Em que bicho você aposta? – Andréa Amaral

Bom e velho jeitão cômico cult da nossa amiga Andréa. Vocês irão gostar desse texto, eu aposto!

38º - Conto de fatos – Camila Furtado

A melhor história pra boi dormir que já li.

37º - Bonequinha de luxo – Juliana Kunzel

Texto perfeito, imagem perfeita. Uma peça luxuosa no Autores S/A. Ninguém soube definir tão bem, aqui no blog, a feminilidade nos dias atuais como Juliana o fez neste texto.

36º - Que ser sou eu? – Lohan Lage

Uma bandeira levantada pelo ser humano, e não pelo ser branco, ou negro, ou amarelo. Continuidade de um debate entre postagens que deu o que falar...

35º - À consciência negada – Sidarta

Tenho que admitir: um excelente texto argumentativo.

34º - Souza e cruz? Salva e luz – Andréa Amaral

Magnífico relato de uma fumante inveterada. O cinzeiro do seu talento jamais ficará vazio, Andréa.
33º - Material girl – Lohan Lage

O texto que substituiu o da Juliana, escrito em última hora! A Juliana da minha poesia rendeu-me muitos elogios.

32º -Ele e ela

Estão pensando em se casar? Pois então façam o favor de ler esse texto antes. Eis a realidade nua e crua de um casal.

31° - Rugas que expressam – Juliana Kunzel

“Cada marca é uma recordação, e todas as linhas se ligam e me compõe, pois só envelhece quem vive”. Precisa dizer mais alguma coisa?
30º - Abençoado por Deus e bonito por natureza! – João Luiz

Os 50 comentários recordes falam por si, sem contar na “pequena grande aula de História do Brasil” que o João nos proporcionou. Um texto recorde, que originou a maior discussão que o Autores S/A já viu.

29º - Amar por amar e ponto! – Cacarina

Não poderia ter estreado melhor no blog. Nesse texto, a autora relata sobre um fato comovente que aconteceu consigo.

28º- Menu da alma – Juliana Kunzel

Explosivo. De tirar o fôlego. De apetecer a qualquer vegetariano a devorar uma churrascaria inteira.

27º - O orgulho de ser brasileira – Andréa Amaral

Fodástica a mulher que pariu esse texto. O Brasil estava precisando desse desabafo, Andréa.
26º - Nenhum vaso é vazio – Sidarta Cavalcante

Podem reclamar: poesia concretista não dá. Sei que não é preferência nacional, mas... Eu adoro tudo que é criação, aliás, tudo que é boa criação. Essa foi uma das melhores poesias concretistas que já li, com todo respeito a Décio Pignatari e aos irmãos Campos.

25º - Língua – Camila Furtado

Obra-prima. Ápice do doce, do vulgar, da literariedade, da excitação. A melhor poesia que já li de Camilíssima.

24º - Bêbado de mim – Simone Prado

Elegância e sobriedade na escrita, apesar de se tratar de uma “poesia ébria”. Um eu-lírico totalmente exposto, sem colete à prova de balas. O charme da escrita “simonesca” é incomparável.

23° - Eu, o menino e o cachorro – Lohan Lage
Um dia uma pessoa disse que tudo o que eu escrevia era pueril, cansativo e sem conteúdo frutífero. Meses depois, eu venci um concurso de poesias, e esta pessoa não ficou nem entre os cincos primeiros colocados, mas tudo bem... E o único texto de minha autoria que essa pessoa “salvou” foi este. Coube um lugar na lista para o meu inesquecível cachorro...

22º- Vermelho – Camila Furtado

Meu coração, que ficou mais que vermelho após ler esse conto, vibrou dentro peito. “Vermelho” é fantástico.

21º - A arte de escrever uma crônica – Eduardo Trindade
Fernando Sabino invejaria tal texto metalingüístico acerca de uma crônica. Leve e despojado como uma conversa de bar, regada a cerveja e petiscos.

20º - Viver – Simone Prado

Viver é quase uma poesia o’concour nesta lista. Um vídeo esplendoroso: a junção de uma melodia tão suave, com uma poesia mais singela ainda. Vale a pena viver por alguns minutos mergulhado nesta poesia em vídeo.


19º- Guernica – Juliana Kunzel

Eu li uma poesia impactante, e ela, para mim, se tornou histórica. Picasso e Juliana formaram uma combinação perfeita.

18º - Estrambote – Lohan Lage

Minha poesia, vencedora do concurso. Uma poesia estrambótica, a qual provou que as métricas não são as melhores escolhas nos tempos modernos.

17º- De cor ação – Edson Basílio

Olhem esse título, pessoal. Estudem esse título. This is... Wonderful. Sem mais comentários.

16º- Do alto da minha laje – João Luiz

Real, comovente, denunciador.
“Por que temos que ser inimigos” questionava-se o menino pobre ao menino rico. Frase marcante.

15º - Uma imagem, uma viagem – Lohan Lage e Simone Prado

Um artigo acadêmico, tão louco e profundo quanto Salvador Dali!

14º - Como te amo – Sidarta Cavalcante

Melhor poesia sidartista, eu não tenho dúvida disso! “Como” no sentido de intensidade, de explicação, de modo, enfim, uma bela poesia romântica.

13º - Sem dono – Mauri Oliveira

Surpreendente. Um baque.

12º - homem que queria ser outro (Parte 1 – A amizade) – Lohan Lage

Creio que este tenha sido um dos textos mais aguardados do blog devido o momento em que foi escrito. Imagem, estréia, comentários exaltados: adorei tudo.

11º - O significado dos nomes – Andréa Amaral

Um dos textos que você, leitor, precisa ler antes de morrer!

10º - Sinopse – Camila Furtado

Sinopse, para mim, é inesquecível. Não tem uma vez que eu vá a uma praça de alimentação e não me lembre desse texto. Great!

09º - Retalhos – Juliana Kunzel

Martha Medeiros? Que nada! A badalada da vez se chama Juliana Kunzel, a autora que abomina os oleosos, e encanta a cada semana com seu humor criativo e escrachado. Retalhos é sensacional.

08º - Boa hora – João Luiz

Excelente hora, João. Seu mais belo texto neste blog, na minha modesta opinião. Uma poesia lindíssima, aliada a uma imagem mais linda ainda, que nos remete à sensação gloriosa de paternidade. Vale a pena se emocionar com essa poesia.

07º - Beto – Mauri Oliveira

Beto representa todos os indigentes brasileiros que morrem nas ruas; todos os brasileiros miseráveis, abandonados pela sociedade. Beto toca fundo na consciência do leitor.

06º - Uma flor e um cigarro – Dani Santos

O tempo parou quando terminei de ler essa poesia. A voz da realidade impera dentre metáforas magistralmente construídas. Uma das melhores poesias deste blog, sem dúvida.

05º -Sem título – Simone Prado (OBS: Infelizmente, não consegui copiar o link desta poesia. Mas, para quem se interessar, ela ainda está recente no blog. Imperdível!)

A mais bela poesia que já li de Simone. Como ninguém, ela sabe conciliar imagem e poesia. A imagem traduz todos os aspectos que ela abordou no texto.
A idéia de o título ser concebido pelos leitores foi certeira.

04º- Ensaio sobre a amizade – Lohan Lage

O texto que marcou o dia do amigo.

03º- Sensibilidade – Camila Furtado

Que texto é esse, meu! Camilíssima, a melhor serial writer do Brasil!

02º- Dieta ortomolecular – Andréa Amaral

Texto que me apresentou Andréa Amaral, a rainha do humor refinado. O melhor texto de humor do Autores S/A de 2009.

01º- Meu desejo clandestino – Juliana Kunzel

Definir esse texto é uma missão difícil. Foi o que mais me emocionou neste blog até então, e por este motivo ocupa agora o posto de primeiríssimo lugar nesta lista. O desejo da personagem foi tão verdadeiro, e a descrição tão verossímil, que foi inevitável a dedução de que Juliana fosse realmente mãe. Juliana surpreendeu a todos com este texto. Todos, já acostumados com seus trabalhos bem humorados, seu humor sem travas, ficamos boquiabertos com tal jóia rara. Quando a Luiza nascer, e crescer, rs, ela ficará muito feliz em saber que sua mãe já a desejava clandestinamente através de belas palavras.




MENÇÃO HONROSA

* Retirada! – Ernesto Ulysses – Sei que ele já deve estar enjoado de receber Menção Honrosa, mas eu não podia deixar de lhe conceder outra: uma Menção Honrosa por “Retirada!”, a melhor poesia de Ernesto no Autores S/A. Felizmente, e, literalmente falando, “Retirada!” foi retirada do blog por motivos... Pacíficos (rs).


* Janelas abertas – Reinaldo Kelmer (http://autoressa.blogspot.com/search/label/Reinaldo%20Kelmer)

Meu amigo e professor Reinaldo Kelmer nos prestigiou com um belo texto, que merece ser lembrado. Que no ano de 2010 possamos ser agraciados novamente pelo seu talento literário, Kelmer!


Quero agradecer a todos por tudo. Logo abaixo, mais uma homenagem. Desta vez, um belíssimo vídeo que eu e Simone preparamos... Um presente para todos os autores do blog Autores S/A. Não deixem de comentar sobre a lista e o vídeo, autores, leitores, seguidores, amigos... E que todos vocês, sem exceção, tenham um felicíssimo 2010! Abraços,
Lohan Lage Pignone

Eis o vídeo “Autores S/A – Uma homenagem”
http://www.youtube.com/v/U1YX6Hhl9F4&hl=pt_BR&fs=1&"> name="allowFullScreen" value="true"> http://www.youtube.com/v/U1YX6Hhl9F4&hl=pt_BR&fs=1&" type="application/x-shockwave-flash" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true" width="425" height="344">







































segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Onde tudo começa


Ontem tive um encontro com velhos amigos.
Mas isso teve um começo...
Era uma menininha, cabelos escuros, olhos verdes, chorando no pátio do parquinho, porque um menino havia batido nela. Seu nome era Luciane. Coitadinha! Lá fui eu ver o que estava acontecendo...
Nós duas tínhamos cinco anos de idade... Ficamos amigas daí por diante. E descobrimos que nossas mães tinham sido amigas quando jovens...
Hoje quando olho para o grupo adulto, com outras crianças correndo entre nós, sou tomada a pensar no começo...

Um homem maduro, ou seria adulto na idade, atravessa grandes dificuldades físicas. Tem três úlceras no corpo, uma delas sangrou há poucos dias. É um querido. Com os outros, mas não com ele mesmo. Nem com sua família. Pois não segue as dietas e os procedimentos necessários à sua recuperação. Seu caso está crítico, atacou também a gota. Mas tudo isso teve um começo. Uma rotina de descuido consigo e uma baixa escuta dos sintomas que já falavam com ele bem antes da úlcera sangrar...

O casal estava aos gritos. As cobranças eram muitas e a convivência ficava insustentável. Um falava sem delicadeza e respeito e o outro reagia, inflamado pelo contexto da indagação... 'Um falava' era o começo...

O começo mora no início e segue cada passo do caminho. Porque o que continua precisa re-começar sempre. Não sei porque estamos cegos e surdos ao que surge no princípio. Da fala, do olhar, da escuta, do gesto, do silêncio, da intenção...

Não sei onde mora o começo do abandono de nós mesmos. Cada um tem o seu endereço. Mas sei que ano novo, novo tempo, novo sentimento só acontecerão se começarmos por novos caminhos...

Tudo nos parece grandioso nesse mundo e às vezes quase impossível resgatar, recuperar... Verdade ou ilusão? Vamos arriscar um pouquinho?

Começar mudando o assunto? Ou prestar uma atenção diferenciada? Dar algo novo? Surprender com um agradecimento? Fazer algo livre escolhido por você e não decidido pelo mundo perdido? Observar mais que amaldiçoar? Dar possibilidade mais que definir e rotular?

Nada será novo nesse mundo se também não mudarmos nosso olhar!

Então, preparando o Novo Ano eu te deixo um beijo nos olhos. Feche-os e sinta-os!
Nossos olhos precisam ver mais e melhor! E mandar direto ao coração e à razão uma mensagem para seguirem adiante, na conquista de um tempo de fato novo, novo que nasce em nós antes de brotar no mundo!

Beijos de feliz e conquistado Ano Novo!

Claudia

domingo, 27 de dezembro de 2009

Tu


Tu quando danças,
parece uma poesia...
quando recitas,
parece uma dança...

O homem que queria ser outro - Parte 14 (Penúltimo capítulo) - Ajuda


O amor constrói, e destrói. O amor infantiliza um gênio. O amor provoca a ira no exemplo de mansidão. O amor é pai do ciúme, filho revel, sem limites.


Ariano amava Lia.


-O Euclides e a Lia... Se beijando, dentro da minha própria casa...


Sentado no sofá, ele se recuperava do baque. Não quis ser levado para o hospital, já se dizia bem. Foi apenas uma emoção muito forte que não suportara...


-Filho, é melhor não arriscar, vamos ao médico... – Aconselhava Arlete, sua mãe.


-Não, mãe!! Eu não quero mais ir a médico nenhum nessa vida! Eu devia ter caído morto!


Ele ataca o copo d’água contra a parede.


Arlete se aproxima de Ariano e lhe dá um sacolejo nos ombros.


-Olha pra mim! Olha pra tua mãe!


Ressabiado, ele olha.


-Você é o que, um homem ou um rato? Uma criança de cinco anos ou um adulto de vinte? Filho, não diga nunca mais uma bobagem dessas por causa de outra pessoa!


-Mas mãe, é a mulher que eu amo! É a mulher que eu amo beijando o meu traidor, o meu inimigo!


-É a mulher que você ama, sim! Mas ela não é nada sua, a não ser amiga! Conforme-se com isso! Aprenda a lidar com as frustrações do amor. Preferir a morte é a saída? – Esbraveja, descontrolada.


-Acalme-se, Arlete. – Apazigua Walter, colocando a mão sobre o ombro da esposa.


Ariano se levanta e num pranto doloroso, desabafa:


-Ninguém aqui nunca vai entender o que to sentindo nesse momento! Ninguém! Eu fui apunhalado pelas costas por todos aqueles que mais confiei. Eu sempre vou ser enganado, por ser muito bonzinho, muito generoso! Isso é que dá! Eu não agüento mais ser passado pra trás. Eu não agüento mais viver essa vida maldita.


Ariano irrompe sala adentro, enclausurando-se em seu quarto. Bateu a porta e a trancou.


Arlete abraçou Walter.


-Meu amor... Esse dia não merecia terminar dessa forma. O Ariano não merecia isso. O que vamos fazer?


-Pegue leve com ele, Arlete. O Ariano é uma pessoa muito sensível... Eu tenho medo da reação emocional dele. O que vamos fazer... É uma boa pergunta.


-Essa Lia, eu não te disse isso hoje!? Eu disse que vocês não podiam depositar tanta confiança nela, eu disse!


-Fale baixo, Arlete! – Repreende – Eu nunca ia imaginar que uma coisa dessas fosse acontecer... Além do mais, aquela mulher estava totalmente bêbada, não podemos dar créditos à palavra dela.


-Não, ela estava muito ciente do que falou... Pra que ela ia inventar isso?


-Eu vou confirmar isso amanhã. Vou ter com essa menina, a Lia... Ela terá que abrir o jogo comigo.


-Não faça isso, Walter. Finja não saber de nada e tente descobrir se os dois são comparsas!


-Não será necessário fingir. Eu vou colocá-la contra a parede. Mentir ela não pode, afinal, temos uma testemunha.


-E onde está essa Ana Lucia? Ela foi embora sozinha, naquele estado lastimável?!


-Não. Eu mandei um táxi levá-la, amanhã ela busca o carro.


-Fez bem. Eu vou tentar conversar com o Ariano.


Arlete bate à porta do quarto.


-Filho, por favor, responda. Estamos preocupados.


-Me deixe em paz! Sai, sai!


Ariano estava envolto ao lençol branco da cama, tremendo de um frio inexplicável. O coração batia muito rápido, o choro não cessava. Teve vontade de ligar para Lia, e xingá-la, humilhá-la, despejar toda sua raiva, enfim... Ao mesmo tempo, pensava numa maneira de matar Euclides. Nunca pensara em matar um animal sequer. Mas, desta vez... Seu ódio era superior. O amor e o ódio... São irmãos.


Ana Lucia chegou em casa derrubando um vaso de flores. Régis, que já estava deitado, escuta o barulho vindo da sala. Ele confere a hora no relógio de pulso sobre a escrivaninha.


-Onze e meia da noite...


Ele desce a escada e flagra a mulher esparramada no sofá da sala, babando pelo canto da boca. Ele se dirige até ela.


-Ana, Ana – Chama, bulindo seu braço.


-Oi... Oi meu amor.


Ela se aproxima de Régis para beijá-lo, mas ele recua.


-Que bafo horroroso. Ana... Você encheu a cara novamente.


-Ainnnn, até você!!...


-Até eu? Como assim, até eu? Eu sou o seu marido. Você deve me escutar, ta me entendendo?


-Não venha com sermão!


Ela se levanta, cambaleando.


-Vamos tomar um banho frio.


-Deus me livre! Eu vou beber mais um skinho...


-Ana, venha cá.


Régis a segue e agarra em seu braço.


-Você se tornou uma alcoólatra! Sabe o que eu fiz com todos os seus uísques? Foram por ralo abaixo. Todos. Nesta casa, a partir de hoje, não entra uma gota de bebida alcoólica sequer!


-Não acredito, você não podia, não podia ter feito isso!!


Ana dispara a dar tapas em Regis, que a controla.


-Pare!! Para com isso!! Ou serei obrigado a te internar! Vem comigo!


O delegado a pega nos braços e sobe com ela, levando-a para a suíte. Lá, ele a coloca sob o chuveiro, com a roupa do corpo. Ele liga o chuveiro. Ela se debatia.


-Cale a boca e tome essa ducha! Olha pra você, Ana. Uma mulher da sua idade, cometendo um vexame desses... Que exemplo você quer ser pro teu filho, hein? Me diz, porra!


-Para de gritar comigo!! – Ela tapa os ouvidos.


Ele a sacoleja.


-Olha pra mim: eu já aturo muito problema na minha vida, ouviu bem? Se você continuar a ficar nesse estado deplorável... Eu vou embora com o Pietro. Vou pra nunca mais voltar.


-Você não tem o direito!!


-Não existe juiz capaz de permitir a guarda de uma criança concedida a uma mãe... Uma mãe alcoólatra. Infelizmente, Ana... Essa é a sua realidade. Você precisa de ajuda, e eu estou disposto a te ajudar, desde que... Desde que você comece a se ajudar primeiro. Pense nisso...


Régis se retira do banheiro. Ana fica ali, caída de joelhos. As águas desciam ralo abaixo, misturadas às lágrimas de Ana. As águas... Águas do oceano, revoltas, que batiam contra as pedras da Gávea que contribuíam para a formação daquela imensa obra de arte: o céu claro, iluminado pelos raios virgens da manhã nascente; o azul do mar, e o chiado característico do quebrar das ondas nas pedras, na areia...


Ariano observava aquela paisagem de maneira pacífica. Seu corpo estava quebrantado, fragilizado. Abriu os braços e sentiu a brisa matutina arrepiá-lo por inteiro. Respirou-a profundamente. Fechou os olhos. Ao abri-los, caminhou mais dois passos à frente. Agora estava a um passo da queda. Estava na beira do precipício... Estava a beira da morte. Queria senti-la, queria sabê-la. Seria ela mais proveitosa que a vida? A vida que levava? Seria ela menos injusta? Ou não seria ele quem estava sendo injusto com a vida que tinha?


-Ei, mocinho. Não acha que está muito na beirada da pedra?


Aquela voz feminina, firme, ressoou docemente nos ouvidos de Ariano, que despertou do transe a um sobressalto. Não havia ninguém ali, senão ele, há poucos minutos.


-Eu sei que os domingos costumam serem chatos, mas... Este nem começou direito. São só seis e meia da manhã.


A voz se aproximara. Tinha ar juvenil, porém, seguro o bastante para se fazer parecer adulto.


-Está falando comigo? – Indaga Ariano, sem se virar.


-Não tem mais ninguém aqui. Pelo menos por enquanto. Não demora meus amigos estão na área. E você? Está esperando algum amigo ou... É um sonâmbulo que ama a natureza?


-Eu não amo mais nada. Nem a mim mesmo.


A morena de cabelos negros e olhos castanhos reluzentes estava a pouca distancia de Ariano.


-Ela te largou quando?


-Como? Você não sabe da minha vida, menina! Quer dar o fora?


-Está revoltado. Quer se jogar da Pedra da Gávea. Até que você é um cara criativo. Poderia ter porrado com o carro num poste, ou simplesmente ingerir uma quantidade enorme de chumbinho ou anfetaminas, até ter uma overdose. Mas não... Sua morte merece, no mínimo, um requinte de beleza.


-Está sendo irônica, está brincando com minha situação! Quem é você?


Pela primeira vez, ele se vira para ela. Se olharam por algum tempo, silentes. Ela respondeu:
-Eu sou Rebeca. Uma mulher que ama a si mesma antes de mais nada.


-Eu conheço o seu joguinho... Quer que eu saia daqui, tem medo que eu me jogue daqui, não tem?


-Eu, medo? Por que eu teria medo? Eu nem te conheço, cara. Quem devia ter medo é você. Durante a queda, você estará vivo. Pode bater fortemente com a cabeça, ou qualquer outro membro do seu corpo numa dessas pedras pontiagudas antes de cair no chão mais duro que existe nesta condição: o mar.


Imagine se a morte te evitar e você agonizar naquelas águas bravias e geladas? Imagine o arrependimento. Imagine o quanto será tarde demais.


-Eu não quero imaginar nada disso.


-Já imaginou. Já visualizou. Pense no que já viveu, cara, e se morrer dessa forma... Será realmente uma morte merecida pra tu.


Ariano parou naquele instante para refletir. Rebeca cruzou os braços, com a certeza de que fora bem sucedida em sua tentativa.


-Você é psicóloga ou o que, garota?


-Ah, ela riu, Deus me livre. Eu já aprendi muito com a vida. Todos nós aprendemos, cara, todo santo dia. Seja lá o que tenha acontecido a você pra tu ter essa reação... Considere como um aprendizado, sacou?


Ariano mira novamente seu horizonte.


-Ela não me largou. Nem começamos a namorar, na verdade. Ela... Ela é só minha amiga. Quer dizer... Era. Ela se uniu ao meu maior traidor. O meu inimigo. Ela... Ela já foi motivo para o meu viver. Hoje... É o contrário.


Rebeca se aproximou mais um pouco.


-Se não valeu a pena viver por ela... Morrer então...


Ariano sentiu vontade de sorrir ao ouvir aquela frase pronunciada por uma mulher tão bela, e tão simples... Mas não sorriu. Virou-se para ela novamente.


-Vem, vamos sentar ali, trocar umas idéias. Quem sabe você não me diz seu nome?


Ariano sorriu, e chorou, sem perceber. Naquele misto de sentimentos, ele se deu conta de onde estava, e do que estava preste a fazer. Recuou.


Frente a frente com Rebeca, ele buscava palavras para dizer o que sentia.


-Pronto. Fez a boa ação do seu dia. Salvou um idiota de vinte anos do suicídio.


-Eu não gosto de boas ações. Ação pra mim já basta. Vambora tomar alguma coisa.


Ela estendeu a mão para Ariano, que, sem hesitar, a segurou.


Seus pais estavam desesperados.


-Já liguei pra todos, ele sumiu. – Decretou Walter.


-Minha Nossa Senhora! Ele saiu com o carro, pra onde esse menino foi a essa hora!! Daquele jeito!


-Fomos relapsos, Arlete. Não devíamos tê-lo deixado ir dormir daquela forma, sem insistir numa conversa, ou sem esclarecer melhor os fatos.


-Agora que me diz isso, Walter?! Agora só Deus sabe aonde ele foi parar! Ele deixou o celular em casa!


-Ele pode ter ido atrás do Euclides. Na casa da Lia, ninguém atende. Estão dormindo, com certeza.


-Atrás do Euclides... Walter, aonde esse menino mora?


-Até onde eu sei, ele saiu da casa dos pais. Agora... Ninguém sabe do seu atual paradeiro. A Julia também suspeita disso, e disse que irá ajudar no que for preciso para achá-lo. Eu vou atrás dele.


-Mas... Vai, como assim?


-Você fica em casa, caso ele telefone ou volte. Eu vou rodar, ele pode estar perto.


-Sim, vai então.


Lá se foi Walter.


Ariano e Rebeca estavam sentados à mesa de um quiosque, ambos tomando um copo de suco.


-Ta mais relex?


-Sim, to... Eu não ia me atirar daquela pedra, Rebeca.


-Não era o que parecia...


-Não, eu... Eu só queria sentir adrenalina. Sentir a morte bem de perto. Me sentir... Me sentir mais homem, mais poderoso. Tudo isso porque eu preciso matar uma pessoa antes. O meu inimigo.


-Não faça isso. Sua vida vai acabar. Você... Você parece ser um cara bacana pra ficar atrás das grades. Você quis ser sentir mais homem e cometeu um ato super infantil. Um descuido ali, e babau.


-Obrigado por ter me salvado dessa. Reconheço que foi arriscado, que perdi um pouco a cabeça... To muito confuso...


-Passe a amar quem te ama. Pronto, everything is solved.


-Todos dizem que sou um cara bacana. Mas não agem como se eu fosse. A maioria sempre quis me ferrar, me ver mal.


-Inveja, só pode ser. Ser bom no mundo de hoje é dose, honey.


-Gosto do seu linguajar. E do seu sorriso. Além disso... Você tem cheiro de mar.


-Uau, gostei dessa! Valeu... Surfista é assim mesmo.


-Ah, logo vi...


-E vôo também. Asa delta.


-Nossa... É uma esportista de primeira.


-O esporte me libertou de muitos abismos... Pode ser uma boa pra tu também, que tal?


-Não, nem pensar. Nunca fui bom em nada de esporte.


-Sei... Ta esperando o que pra me dizer seu nome e o que faz, hã?


-Ah, desculpe, eu... Eu me chamo Ariano. Sou jornalista.


-Hum, que massa! – Comemorou – Pena que ler é meu castigo, se não...


-Ah, fala sério...


-Ariano... Nome claro, transparente...


-Rebeca, nome forte, ousado.


-Ah, essa foi boa! – Sorri.


-Bem, é melhor eu ir. Meus pais já devem ter notado minha ausência a essa altura, e eu deixei meu celular em casa...


-Cara, tu é maluco! Eles já devem ter chamado até o corpo de bombeiros!


Os dois caem na gargalhada.


-Eu rindo num momento desses... Só você mesmo. Apareceu na minha vida na hora certa.


-E você na hora errada. Eu ia meditar, sabia?


-Ah, meditar?! Por que não se juntou a mim então à beira do precipício?


-Porque quero atingir meu nirvana, e não o fundo do mar com minha cara.


Riem novamente. Recomposto, Ariano se levanta, bem como Rebeca.


-Não quero ler seu nome nas paginas policiais, sacou?


-Você odeia ler.


Rebeca sentiu-se atraída pelo sarcasmo daquele jovem aturdido.


-Ok... Se um dia precisar de mim, ou, sei lá, simplesmente quiser me ver, ser salvo, desabafar... Apareça por aqui.


-É a sua casa...


-Não. É a minha vida.


-Eu volto, quem sabe... Mais uma vez, eu... Eu te agradeço.


Ariano aproxima seu rosto ao de Rebeca. Os dois se olham profundamente e... Se abraçam.


-Até a próxima vez.


-Até...


Ariano deixa o local. Rebeca o vê partir, sentindo no corpo resquícios do calor do abraço de Ariano. Um calor aconchegante, que desejava morar naquele corpo por todo o sempre.


Ariano chega em casa. Sua mãe o recebe com um forte abraço.


-Meu filho, você não podia ter feito isso...


-Desculpa, mãe. Me desculpe, eu... Eu precisava sair um pouco. Me desculpe...


Euclides assistia à tv comendo sucrilhos. Ele lembrava a discussão que teve com Lia na noite anterior...


-Essa menina tem que ser minha... E será.


Ele deixa a vasilha de cereais e vai até o quarto vestir uma roupa adequada. Ia sair.


Tomou um táxi, pediu que tocasse para o...


-Morro do Vidigal, por favor.


Faltavam quinze minutos para o meio-dia. O sol estava de rachar.


Após percorrer um bom pedaço, o taxista estaciona o carro na subida do morro.


-Não passo daqui não, senhor.


-Tudo bem. Aqui está ótimo.


-Tome cuidado aí em cima. Com essa pinta de playboy sei não.


-Eles é que devem tomar cuidado comigo. Toma aqui. Fica com o troco.


Euclides entregou uma quantia em dinheiro ao taxista e saiu, sem mais delongas.


Antes de subir, contemplou o panorama do morro. Os barracos, as crianças correndo uma atrás das outras simulando um tiroteio, homens armados circulando pelos arredores.


Subiu. Na verdade, suas pernas estavam um pouco tremulas. Alguns jovens que por ali rondavam lhe dirigiam olhares esquivos, desconfiados... A mão próxima à cintura... Até que um deles o abordou com uma certa arrogância.


-Ta perdido aqui, neguinho?


Euclides respira fundo. O suor lhe desceu em maior quantidade.


-Não. Estou indo visitar o meu parceiro, Clóvis Aranha.


O moleque sem camisa o olhou de cima em baixo. A arma podia ser vista presa à bainha da bermuda.


-Eu te levo até lá.


Euclides sentiu-se aliviado e o seguiu.


Poucos metros depois, o moleque bateu à porta de um barraco.


-Aranha!


Clóvis apareceu em seguida, mascando um chiclete. Era negro, forte, careca, e tinha a barba mal feita.


-O que manda, menor?


-Visitinha de domingo.


O moleque aponta para Euclides. Clóvis sorri com o chiclete se movendo dentre os dentes amarelados.


-Tranqüilo. É meu chapa. Entra aí, dos Santos.


Euclides agradeceu ao moleque, que passou lhe mirando com um semblante de poucos amigos.


Cumprimentou a Clóvis.


-Então se lembra de mim. – Diz Euclides.


-Como me esquecer... Entra.


Entraram. A casa tinha um odor insuportável de peixe. Estava desarrumada. Guimbas de cigarro pelo chão. A televisão ligada, num jogo de futebol europeu. Euclides passou pela cozinha, e observou uma mulher preparando um peixe para o almoço.


-Bora com esse rango, Maria! Temos visita!


Seguiram para a sala. Clóvis se jogou no sofá.


-Senta, tu não paga não.


Euclides lançou um olhar para o sofá com um certo asco. Nada higiênico... Sentou-se. Clóvis puxou um cigarro da carteira e o acendeu.


-Fuma?


-Não, obrigado.


-Tu não mudou nada pelo visto... Esse teu jeitão de homem certinho, esses olhos que observam até o pouso de uma mosca a metros de tu... Sua retidão me fascina, Euclides. – Ri, irônico.


-Temos algo em comum, Clóvis. Nunca fomos bons exemplos pra esse mundo. Por isso te procurei.


-Eu to mudado, meu chapa. Minha mulher ta grávida. Eu to trabalhando.


-Cocaína ou crack?


-Larguei essa porra... – Ele dá uma tragada – Meu trabalho é honesto.


-Acredita em redenção?


-Eu não quero me redimir de porra nenhuma. Só quero comprar o leite do meu filho com dinheiro limpo.


-Não existe dinheiro limpo, Clóvis. Dinheiro é sujo de origem.


-Como aquele que me pagou pra cumprir aquele servicinho pra tu, lembra?


-Sim. As colas nas provas de Português e Lingüística não foram suficientes. Precisei assaltar a bolsa dos meus pais.


-O que você pediu não foi nada... O lance foi o que te motivou... Disso eu nunca esqueço, véio.


-Esqueça, Clóvis. Pior do que eu fiz foi a sua burrada. Com uma bolsa de estudos na mão, tu se entregou pro mundo das drogas.


-Universidade... Tentações. A vida inteira eu morei no morro, e na Universidade, aquele lugar cheio de playboyzinho e puta, eu me perdi. Comecei a faturar com droga. Conseguia aqui, vendia lá. Lucrava em cima daquele bando de otários chincheiros, que assim como eu, não valorizavam um minuto sequer da oportunidade de ta dentro de uma faculdade federal. Eu me arrependo por toda essa burrada.


-Ainda escreve? Você tinha uma boa redação.


-Se eu fosse um cara certo na faculdade, tu ia fazer comigo que nem fez com aquele nerd, não ia? Ia mandar me dar uma surra por eu ser bom. Ia me expulsar da faculdade. Não ia suportar a idéia de eu tirar notas maiores que a sua. De eu ter mais amigos que tu. Não ia?


-Talvez. Olha, eu não quero ficar relembrando isso... Eu quero te pedir uma ajuda.


-Não quer relembrar... Mas lembrou dos velhos tempos pra vir até aqui... Quem tu quer mandar pra UTI agora?


-Ninguém. Desta vez eu só preciso seqüestrar uma pessoa.


-Ah, ri, só isso que precisa? Ta louco? Tu não se cansa de fazer maldade?


A mulher, da cozinha, ouvia alguns pontos da conversa.


-Clóvis, eu percebo que mudou, que tenta apagar teu passado negro... Mas eu só tenho você como... Como amigo pra me ajudar nessa.


-Não me leve a mal, meu chapa. Mas desta vez... Eu to fora. Esquece esse lance de seqüestro. Pra que isso?


-Porque eu preciso! Essa pessoa, essa pessoa... Eu só quero dar um susto nela, é isso! Ela fez uma merda comigo, eu só quero dar um susto. Não vou machucá-la, até porque... Eu a amo.


-É mulher? – Abismado.


-E daí? Mulher, homem. Mulher é até mais fácil...


-Cara, sai dessa.


-Vem cá, tu virou evangélico? Cadê a bíblia debaixo do braço?


Clóvis se levanta e se coloca diante de Euclides, com um semblante irritado. Euclides se arrepende imediatamente de ter perdido as estribeiras com aquele homem truculento.


-Retire o que disse, seu filho da puta.


Euclides engole a seco, e, trêmulo, ele obedece:


-Me desculpe. Eu me excedi, fiquei nervoso, cara. Foi mal. Olha, eu vou embora. Foi um erro eu ter te procurado. Darei outro jeito, já que não pode me ajudar... Uma pena.


Euclides se levanta e encara Clóvis, ainda inquieto. Estende a mão para Clóvis, que não retribui o gesto.


-Eu não vou te ajudar porque como já disse, não quero mais sujar minhas mãos com dinheiro podre. Mas também não vou te deixar na mão, em consideração pelos velhos tempos... Conheço um cara. Um cara que ta necessitado e que mexe com isso. Mas ele não fará isso sozinho. No mínimo, terá que ter a ajuda de mais alguém. Serviço caro, morou?


-Entendi, claro. Tenho como pagar. Pago o que for preciso. Me leve até esse cara, Clóvis.


Clóvis o estudou por alguns segundos com o olhar atento.


-Tu não presta, dos Santos. Vem comigo...


Ana Lucia estava sentada na mesa da cozinha, tomando uma xícara de café forte. Havia acordado há pouco tempo. Régis chega do parque com o filho. Pietro corre até a cozinha e dá um abraço em sua mãe.


-Mãe!


-Oi, meu amor... Nossa, como ta suado! Vai correndo pro banheiro, vai!


-Eu e papai disputamos corrida, eu ganhei dele!


-Ah, sério?! – Sorri Ana.


-Sério!


-Agora vai lá, seu fedido. Vai.


O garoto corre para o banheiro, serelepe. Régis se dirige à esposa. Ela o olha com vergonha. Lembrava-se de tudo que aconteceu na noite passada.


-Curando a ressaca? – Ele diz, enquanto enchia um copo d’ água gelada.


-É... Amor, me perdoa.


Ela se levanta, indo até o marido. Neste momento, o telefone toca. Ana Lucia vai atender.


-Quem fala?


-Ana, sou eu, Ariano.


-Oi... – Responde, como se já soubesse o que vinha pela frente...


Ela vai para um canto mais afastado da sala, para que Regis não a ouvisse.


-Você ta bem, Ari? Ontem eu te fiz passar muito mal. Eu me lembro de tudo.


-Bem eu não estou, Ana. Se soubesse o ódio que to sentindo... É bom saber que se lembra de tudo. Preciso que me confirme tudo o que me disse.


-Você pode passar mal de novo.


-Não, eu não irei. Fala, Ana.


-Eu vi os dois se beijando. A Lia tentou bater no Euclides ao perceber que eu os flagrei. Fez uma cena. Mas o beijo foi real. Ariano, os dois são suspeitos de assassinato e estão tendo um caso. Afaste-se deles e não faça nenhuma besteira. A polícia vai dar conta deles.


-A Lia não podia ter feito isso comigo. Não mesmo.


-Não entre em contato com eles. Se eles souberem que você sabe do beijo, podem armar algo contra você. É perigoso!


-O que é perigoso para ele, Ana? – Interrompe Régis, aparecendo de repente ao lado dela.


Ana leva um susto.


-Ariano, eu tenho que desligar agora. Fique bem, ta? Beijos.


Ela desliga.


-Eu ouvi uma parte da conversa.


-Não respeitou minha privacidade, Régis.


-Agora tem segredos comigo?


-Não. Eu... Eu ia te contar isso.


-Isso o que?


-O que eu presenciei ontem no aniversário. Eu flagrei o Euclides e a Lia, os dois principais suspeitos por terem matado o Adalberto, se beijando.


Régis fica boquiaberto.


-Meu Deus, Ana! Você tem certeza do que está dizendo? Você... Minha nossa, isso promove uma reviravolta no caso. Eles podem formar um complô...


Régis oscila pela sala.


-Eu vou colocá-los cara a cara. Lia e Euclides. Eles terão que me esclarecer tudo. Tudo.


Domingo à noite. Arlete assistia a tv na sala. Ariano estava no quarto digitando um texto. Excluíra a foto de Lia Neide de seu computador, em meio a lágrimas.


Walter, que havia saído de carro há meia hora, chega em casa. E não chega sozinho...


Arlete entra no quatro de Ariano e, meio sem jeito, diz:


-Filho... Tem uma pessoa na sala que deseja falar com você.


-Uma pessoa? Não pode me dizer quem é?


-Estamos te esperando.


Ela sai. Curioso, Ariano salva seu texto e vai até a sala. Ao chegar lá, se depara com...


-Lia Neide.


Ela, Dona Beatriz e Julia. As três estavam a sua frente. Lia tinha o olhar mortificado, uma aparência lânguida.


-Ariano... Eu preciso que acredite em mim. – Rogou ela.


-Quem trouxe vocês aqui? Hein? Foi você pai? Foi?!


-Fui eu. Ariano, é melhor que tudo se resolva através do diálogo.


-Diálogo? Ela não é confiável! Eles são comparsas! Estamos correndo perigo confiando nela!


Arlete cruzou os braços, inquieta. No fundo, concordava com o filho, porém optou por se manter calada.


-Ela é minha cliente, e sua amiga. Ela nos deve explicações.


-Ela me deve tanta coisa, pai.


-Minha filha não te deve nada, Ariano. A Lia não tem culpa que você a ama. – Defende Beatriz.


O ponto fraco de Ariano foi atingido. Um silêncio recaiu sobre todos.


-Não, ela não tem culpa. Você tem culpa, por tê-la colocado no mundo.


Todos ficaram admirados com tal declaração.


-Ariano, ouça o que a Lia tem a dizer. – Aconselha Julia.


-Tudo o que ela tem a me dizer eu já sei. O que vai inventar? Que ele te beijou a força? E se ninguém tivesse visto? Você teria contado a alguém?


-Sim, mas... Ontem eu fiquei muito nervosa, além do mais, se eu te contasse, você ia se descontrolar com o Euclides.


-Mentira, Lia! Você gosta daquele canalha, vocês estão juntos nesse crime! Se bobear, querem acabar comigo também.


-Ele me beijou a força, eu tentei impedi-lo... Depois ele fingiu, fez um teatro sórdido na frente da Ana. Não vai acreditar na minha palavra?


-Infelizmente, Lia... É muito difícil confiar em você desta vez. Vou entregar os fatos nas mãos da polícia. A verdade virá.


-Vai dizer isso à polícia? – Espanta-se Dona Beatriz.


-O próprio Euclides pode dizer em seu depoimento, amanhã – Calcula Walter – Ele vai querer dividir a culpa, ou jogá-la totalmente nas costas da Lia.


-É uma pena que não acredite em mim, Ariano. É assim que me ama? É esse o seu amor verdadeiro?


-Ariano, por favor! Você é um garoto inteligentíssimo! Já sabe do que o Euclides é capaz! Está na cara que ele armou isso pra cima da Lia. Vai ver ele até sabia que seria flagrado. – Exalta-se a jornalista Julia.


Ariano oscila pela sala, confuso.


-Se meu filho passar mal de novo por causa de vocês, eu não respondo por mim, entenderam?! – Pronuncia-se Arlete.


-Ariano, precisamos nos unir. Somos as vítimas. E você é a chave desse jogo. Precisamos que fique do nosso lado, aconteça o que acontecer. – Prossegue Julia.


Ariano lança um olhar triste para Lia.


-Ele te beijou...


-É esse o problema, Ariano?... Está com ciúmes, acima de tudo. – Deduz Lia.


-Não é ciúme! É raiva... É raiva!


Ele soca a estante.


-Vamos reservar toda essa raiva para descontar nele. O Euclides merece pagar por tudo. É isso que ele quer. Que nós briguemos entre si.


-Julia, ele vai pagar. Eu vou pegá-lo.


-Filho, o que está pensando em fazer? – Perguntou Walter, em tom de repreensão.


-Matá-lo.


Todos se entreolham, assustados com aquelas palavras vestidas de ódio e rancor.