quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Sobre a preservação da libido nos seres que dependem dela para continuar vivendo.

"Pelo jeito que a coisa vai, em breve o terceiro sexo estará em segundo." (Stanislaw Ponte Preta)


Luzes coloridas de neon, pista de dança, bares, poles onde se penduram bailarinas girando seus traseiros cheiros de erotismo,corredores que podem nos levar a qualquer situação imprevista; labirinto impregnado de cores, cheiros, pessoas, raças, cujo significado não têm a menor importância. O que importa é a adrenalina, o desejo, o brinquedo proibido , a manipulação direta e indireta de desejos canalizados e expostos à estranhos parceiros sem face e sem identidade. A marca individual se encontra nas genitálias, nas nádegas, nos pés, nas bocas, nos sussurros, no aroma impregnante de sexo.
Manipular significa se fazer disponível para toda e qualquer experiência através do instinto maior de preservação da espécie. Caricaturas no ato de reprodução, tal qual os tempos de Adão e Eva, tal qual Sodoma e Gomorra, tal qual a Roma satirizada de Nero e Calígula: animais burlescos em busca do prazer luxurioso sem medir consequências morais, sociais ou religiosas. Apenas pele, sensações e órgãos em movimentos libidinosos e mecânicos tentando chegar ao ápice do que o corpo humano pode expelir de si mesmo: um gozo extasiante sem fronteiras e compartilhado voyerísticamente entre os personagens do clube de swing. Este era o ambiente que aguardava mais dois casais exóticos...para dizer o mínimo.


No momento em que saiu de sua casa , Jezebel havia se encorporado nas entranhas de Iracy. Sentia-se excitada pela novidade a qual estaria exposta. Apolo , o garoto de programa  com quem vinha se relacionando nos últimos três meses, sentindo o quanto aquela ex-dona de casa se descobria enquanto mulher a cada encontro que tinham, decidiu desafiá-la a enfrentar o desconhecido. Uma situação um tanto quanto inusitada, corajosa e por que não dizer, inescrupulosa e marginal. Experimentar o fruto proibido tem seu preço, que pode ser altíssimo....
Por isso, Iracy decidiu que deveriam ir à um local onde em hipótese alguma, pudessem ser reconhecidos, pois estariam expostos em todos os sentidos, literalmente falando.
Haviam chegado a Punta Del Leste três dias atrás. Dias de reconhecimento do local e de ensaio para o grande evento. Até agora haviam ido à praia, curtido o spa do resort aonde estavam hospedados, com muito banho de hidromassagem, sessões de aromaterapia, massagem sueca, shiatsu. Disse à Apolo que tivesse calma, ela diria quando estivesse preparada. Hoje era o dia.
Bebericando seu cocktail na lounge em frente à piscina, ela se perdeu em outros pensamentos....o que diria seu ex-marido se a visse naquela situação? Melhor nem pensar. O pobre diabo teria um infarto, no mínimo. Até que seria bom, o gostinho de uma vingança que se come fria. Imagina, justamente ela, uma "senõra" , mãe e avó que sempre sucumbiu às vontades autoritárias do marido, sem levantar a cabeça, sem se impôr, engolindo todos e quaisquer sapos todos aqueles anos, sem nunca ter sequer dialogado sobre a vida sexual do casal, sem saber o que era sexo oral, prazer, comunhão de corpos, brincadeiras eróticas. Preliminares? Nem pensar. Hoje tinha a noção exata de que seu papel fora o de mera reprodutora, empregada e mais um item de decoração da casa, que por ter mobilidade, também era utilizada como boneca marionete para ser exibida para todos os vizinhos, parentes e casais do círculo de negócios que era obrigada a aturar sorrindo, em intermináveis e maçantes almoços regados por conversas fúteis de esposas tão solitárias, carentes e superficiais quanto ela, cuja válvula de escape, eram as sessões de compra nos shoppings da cidade.
O que diriam hoje as suas amigas das Cáritas, onde fazia um trabalho voluntário para a Congregação da Imaculada Conceição? Nem seus silicones eram aprovados! Diziam que ela era outra depois da separação, que enlouqueceu, que estava se sentindo inferiorizada, que era vingativa, orgulhosa. No início podia ser, mas à medida que foi se aprofundando no divã do analista, começou a perceber que sempre usou uma máscara que não era dela, que viveu num mundo de convenções obrigada a fazê-lo, só por ter nascido mulher. Vagina entre as coxas era sinônimo de sujeição, escravidão, humilhação...
Mas os tempos agora são outros. Sem algemas na mente, renasceu para a vida e queria na terceira idade, aproveitar o que ainda lhe restava de vida, antes de sucumbir as doenças e a paralisia que acomete a todos nós.
 Aprendeu que a vida é uma só, e que chega de se culpar por coisas pelas quais ela não tinha culpa. A gente é o que a gente tem; a gente leva da vida o que se faz da vida. E viva o tesão! Como está bem escrito no livro do psicanalista Roberto Freire que ela resolveu ler como fonte de inspiração: "Sem tesão, não há solução".


Luís Arantes soube no momento que conheceu Ágata que  ela  era uma escort girl diferente das outras. Fina, elegante, possuía algo familiar e refrescante, algo que encontrou em sua esposa no tempo em que eram enamorados, e que se perdeu com as obrigações matrimoniais e rotineiras, principalmente após a chegada dos filhos.
Entre encontros e renúncia total do casamento até o divórcio e o ato final de consolidação daquele affair, contabilizavam-se três anos. E como em todo relacionamento, o início acalorado foi perdendo seu encanto com a rotina, e percebeu que para manter aquela mulher como objeto de coleção ,admiração e cobiça,  teria que abrir sua mente para algumas novidades, caso não quisesse ser um corno cego e burro. Pagava caro para ter exclusividade. Dividi-la com outros, só com seu aval e observação em primeira instância.
Por isso, resolveu ceder aos constantes pedidos de sua amante,de apimentar o relacionamento sexual do casal, incluindo participantes estranhos, sem vínculos de qualquer gênero. Coadjuvantes ativos, que seriam apenas sombras, após algumas horas de prazer.
Decidiram ir para Punta Del Leste, mas não queriam ficar num resort qualquer. Arantes era conhecido no balneário, por isso se hospedaram em um bangalô independente da área comum do resort. Um chalé digno
de noivos em lua de mel. Já estavam ali há dois dias e hoje seria a grande noite. Ele precisava deste tempo para se sentir seguro de si. Embora não fosse um santo, nunca havia participado de nenhum tipo de suruba, sempre gostou de sexo entre quatro paredes e reservado a um casal e só. Mas haviam conhecidos seus que relataram algumas experiências do gênero com suas amantes ou garotas de programa pagas para se exibir em público. Além do mais, o uso do Viagra era um plus na prolongação do exercício sexual. Sentia-se excitado em pensar em assistir sua mulher ser penetrada e acariciada por outros homens, embora não expressasse a ela tal desejo que também era novo para ele.
Por um momento pensou em Iracy...o que diria sua ex-esposa se o visse dentro de um clube de swing?
A coitada até resolveu fazer lipoaspiração e colocar silicone tentando atraí-lo novamente para si. Mas de velho já bastava ele. Os netos eram o que ela podia usufruir da vida. Que ficasse lá comportada e gastando seu dinheiro com cosméticos.Que ficasse lá entretida nas obras de caridade. Nem o significado de orgasmo, a pobre criatura conhecia. E que continuasse assim..
Com sua esposa  nunca pensou em tal coisa, aliás, este tipo de pensamento era uma total aberração. Eles eram de um tempo, que swing era um estilo de dança americana. Sua esposa era mãe dos seus filhos, uma mulher quase santificada. Ele foi educado para pensar que a mulher escolhida para ser levada ao altar deveria cumprir suas obrigações sexuais sem muito assanhamento.
As putarias sexuais era restringidas aos casos e noitadas extra-conjugais. Para isso pagava as prostitutas. Para realizar fantasias loucas, que no seu caso, sempre foram conservadoras, do tipo "papai e mamãe".
Bebeu mais uma dose de whisky e resolveu tomar um banho, antes de ingerir a pílula milagrosa.
Seu mastro não iria se dobrar em nenhum momento. Disso Jennifer podia estar certa.



Não percam! Cenas do último e excitante capítulo, na próxima semana.

4 comentários:

Sim! Podemos pensar! disse...

Eita Andrea!!!

Isso aqui tá pegando fogo!

Muito bom seu texto,consigo visualizar com muita clareza esta infeliz realidade existente na vida de muitas pessoas hoje em dia.
Eu,tenho um pensamento romântico e gosto de ser assim,acredito naquele casamento "até que a morte os separe" e trabalho para manter o meu nesse objetivo.Sou filho de pais separados da conturbada década de oitenta e até hoje venho colhendo um monte de "rebordosas" por conta de não ter tido orientações que hoje eu tenho de dar um jeito de desenvolver para poder passar para meus filhos de forma que eles cresçam com mais tranquilidade,resguardados por uma família bem constituída,sei que não é fácil hoje em dia sobreviver aos modismos e tentações que se apresentam,mas venho buscando vencer acreditando que assim seremos mais felizes.

Sei que esse comentário pode soar careta e/ou quadrado,porém não estou querendo ditar regras nem fazer julgamento,apenas estou falando da forma que faço e que acredito ser o melhor para minha família.

Como sempre sua escrita é brilhante!

Parabéns!!!

Camila disse...

Andréa e suas tramas tão bem arquitetadas. Você tem um ponto de vista invejável sobre as pessoas, sobre suas máscaras, sobre suas personalidades. Você enxerga nos outros aquilo que eles mais teimam em ocultar. E consegue trazer brilhantemente essa visão pra dentro dos seus textos, que são como raios x da psiquè humana.
Tem uma máxima que diz que no sexo grupal alguém sempre fica no prejuízo, será que vai ser assim nessa história? Aguardarei...

Andréa Amaral disse...

Às vezes eu penso que o grande dilema do homem é achar que "novidades" farão com que ele resgate um prazer, que só conhecemos quando somos crianças descobrindo o mundo. Daí que o que ele pensou que fosse trazer esta sensação permanente só dura o efeito de uma dose, e ele então, ou se torna um viciado naquilo que experimentou e até gostou,ou continua buscando novas sensações, sempre e eternamente insatisfeito. Não podemos fugir da rotina como gostaríamos...A mídia se torna o ópio daqueles que não refletem e não sabem valorizar a própria vida por falta de orientação ou auto-estima. A moda dita as regras, pois tem-se a ilusão de que o suposto "glamour" será transferido para a realidade. Somos fracos, pecadores e burros.

Lohan disse...

kkkk
Tive q rir nesse final!
Acho q todos vão acabar num tremendo swing mesmo, rsrs, e como bem disse Camila, alguém ficará no preju.
Sua história é, sexualmente falando, foda.
Já barrou Harold Robbins, rs.
Bjão, Andrea!