sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Você não vale nada e Não gosto de você!


Confesso que segurei até o finalzinho, mas hoje, sendo o último capítulo não agüentei...


Mais uma vez chegamos a mais um último capítulo da novela das nove da rede globo e acompanho, a começar pela minha casa (infelizmente) a grande comoção e expectativa pelo grande final da novela. Com certeza se pararmos para pensar só um pouquinho podemos prever o que vai acontecer, afinal é sempre a mesma coisa: O mocinho fica com a mocinha, o vilão morre ou vai pra cadeia e no fim, todos vivem felizes para sempre.


Sabemos que uma novela, sendo uma história fictícia, não tem qualquer obrigação de espelhar a verdade, nem a realidade; pode mostrar uma índia rica e pomposa sem mencionar o outro lado, a miséria, a fome e a desigualdade social de milhares de pessoas que lá vivem. Mas tudo bem, é uma novela, é ficção.
O problema é que a grande massa que assiste este tipo de programa não sabe disso. São trabalhadores que após mais um dia de jornada forte, de enfrentarem trânsito, violência e o medo das grandes cidades, querem chegar em casa e ter um “refresco”; querem descansar um pouco, assistir algo que lhe traga um prazer e sair um pouco daquela rotina estafante. Neste ponto tenho de concordar que é muito mais fácil sentar na poltrona em frente à TV do que pegar um bom livro (a maioria nem tem em casa).

Poucas pessoas têm acesso a melhores canais, pois são pagos e o que resta é a Globo com sua programação manipuladora e tendenciosa. Muitos telespectadores acreditam naquela realidade ficcional e vivem com aquele modelo de vida, se inspirando naquelas personagens. Não é a toa que tais novelas ditam moda e até o jeito de falar das pessoas. Não há dúvidas de que a novela é um grande meio de comunicação e algumas já trouxeram benefícios para a sociedade fazendo campanhas contra o alcoolismo, campanhas em prol da saúde e outras. Mas, a meu ver, trazem mais mazelas do que benefícios, principalmente por transmitir conceitos permeados pela falta de caráter, a infidelidade e uma série de influências negativas que são transmitidas como se fossem “coisas normais”; como se fosse bonito sair à noite, trair o marido e depois voltar para casa ao som daquele forró horroroso e com a maior cara lavada do mundo. O pior é que esse tipo de personagem faz sucesso, muita gente acha bonito. É só ver a quantidade de mulheres que hoje já estão andando mostrando parte do sutiã nas ruas. Por outro lado, ser corno também é sucesso?Por que não podemos ter personagens com ética, com moral, com vergonha na cara? Será que nossos “brilhantes” autores ainda não perceberam que as pessoas aprendem o que estão vendo na televisão?

Infelizmente, se formos aprofundar este pensamento, vamos constatar que grande parte da sociedade brasileira é educada (ou deseducada) pela Rede Globo e isso é grave! Imagine só a oportunidade que um meio de comunicação como este tem na mão: A condição de criar valores morais para milhões de pessoas e contribuir para um país melhor, em que as pessoas terão mais ética e bom senso no conviver com os outros. Mas não podemos pedir a quem não tem para dar, pois a alienação é interessante; com povo “anestesiado” fica mais fácil vender produtos e conceitos sem nenhum ou com poucos questionamentos.

O importante é continuarmos fazendo nossa parte, pensando, problematizando, sendo mais um “mala” a levantar essas questões, pois no final das contas, no mundo “encantado” da televisão acaba tudo na gafieira ao som do tal forró de quinta categoria.

7 comentários:

mauri disse...

bem alunos da rede globo...
concordo plenamente, talvez algum dia as coisas mudem (talvez as emissoras encontrem algum meio de vender ética e honestidade...), mas por hora prefiro não saber o que aconteceu no fim da novela à perder a lucidez quanto a realidade. E, é claro, ler bons textos como esse, pelo menos enquanto não privatizam a internet :P

Andréa Amaral disse...

Are baba! Bagulhão qui ele é!kkkkk.
João, você é ótimo. Concordo em número e grau, mas pelo menos as novelas da globo ou qualquer outro canal, não nos deixam loucos de tristez pela realidade que temos. Concordo com o Mauri. É melhor novela na tv do que em Brasília.
Pelo menos tem homem bonito e gostoso.
Mas, brincadeiras à parte, seu texto ficou ótimo. Muito lúcido, Não perdeu o foco quanto ao real.

Camila disse...

Não sou fã de novela, João. Não assiti Caminho das Indias nenhum diazinho sequer. Eu até gosto de algumas clássicas, que na verdade eu considero como verdadeiras obras de arte, como "O cravo e a rosa" de Walcir Carrasco. Eu amei aquela novela! E tem algumas outras que eu curti tb, mas isso é raríssimo. De um modo geral, me incomoda essa banalização de valores que a novela traz, mas infelizmente isso não está só nas novelas. A própria imprensa está cada vez mais sensacionalista e apelativa. E a situação melhora, mas não se soluciona nos canais à cabo. O Cartoon network, por exemplo, é uma péssima influência para as crianças! Outro dia eu assistia a uma vinheta do Cartoon e o Fred (do Scooby Doo) falava uma mensagem às crianças:
"Sempre me perguntam pq eu uso esse lenço no pescoço. E eu respondo: Vai se piiiiii, ninguém tem nada a ver com isso piiiiii, que piiiii!!!"
Uma sucessão de palavrões substituídos pelo ruído já mencionado, no fim ele diz:
"Viram? Crianças, não tenham medo de se expressar, o importante é ter estilo!"
Eu quase morro quando vejo essas coisas...
Temos que ser seletivos (e dá pra ser?) Mas se não for a novela, vai ser o programa da Marcia fazendo barraco, ou da Luciana Jumenta (ops, Jimenez) fazendo perguntas idiotas aos convidados; ou o Gugu dando casa pros outros em troca de explorar a miséria alheia. Enfim, tudo isso dá ibope!
E o povo brasileiro precisa (eu entendo, de verdade) dessa distração, para esquecer a dureza da vida. Agora vai começar a época de sonhar com apartamentos no Leblon e vida glamourosa, Manoel Carlos sabe, como poucos despertar sonhos impossíveis.
É isso, desculpe pela extensão do comentário, e ah, adoro essa acidez característica da sua escrita. Bjs!

Lohan disse...

Olá amigos da rede Globo, ops, do Autores S/A! rsrs
Adorei seu texto, João! Mandou muito bem mesmo; você vale todos os elogios, e eu gosto de vc!
Eu posso me considerar um apreciador de novelas, mas como bem disse a Camila, sou muito seletivo nesse quesito. Essa novela Caminho das Indias não me interessou em nenhum aspecto, com execeção da Juliana Paes, belíssima atriz, dançando a ''dança do ventre'' rsrs
A Glória Perez construiu um elenco tão bom para ser desperdiçado numa trama tão frugal e ''macaco de imitação'' da novela O Clone, que por sinal, foi de sua autoria tbm. Seria falta de criatividade??
Aliás, falta de criatividade é o que mais se vê nos autores globais. Que novela não tem um caso de infidelidade? E quantas vezes não vimos, no último capítulo, ser desvendado aquele famoso mistério que já virou clichê de outdoor: Quem matou Fulano de Tal????
Ultimamente, a qualidade está mais presente nos folhetins considerados de época. Mas, até mesmo estes, chegam a dar no saco as vezes. Esses dias, assistindo a um capítulo da novela das seis, Paraíso, uma personagem repetiu a palavra demonio mais de dez vezes. Imagine na novela inteira! Nem assim a Globo é amaldiçoada, oh céus! rsrs
Enfim, não vou me prolongar mais... Até a próxima! e parabens João, ótimo texto!!

altamir disse...

com uma ressalva.....a Surian não se f....Se deu bem.

Bianca disse...

Tão ácido quanto um limão (rsrs) contudo super pertinente. Apesar do nosso papo hilário de sábado, saiba que A-D-O-R-E-I o texto!!! Mas assumo aqui que SIM eu vi o último capítulo e tirando alguns péssimos exemplos até que deu para tirar uns ensinamentos. Resta saber se a maior parte da audiência levará como lição a safadeza de Norminha ou o peso de uma mentira; a psicopata que se livra da prisão ou os ensinamentos do bem e do mal. Eu sou grata por ter ficado com a parte boa. :-)

bjocas!

Ah, não tô entendendo como faço para colocar o seeeelo!

Sidarta disse...

João, sempre que você faz a crítica de nossa sociedade atual, se sai muito bem. Gostei demais de seu texto. O ruim é que nem todo mundo sabe que a TV é uma concessão pública, e quando tentamos, nós a sociedade, regulá-la, logo vem a palavra "censura". Logo essa mídia "nossa" que apoiou quase que em peso a ditadura militar e se vangloria de ter sido censurada.

Como a Camila, também já gostei de algumas novelas. Vou citar, além de "O Cravo e a Rosa", "Roque Santeiro", "Sinhá Moça", e, por mais incrível que possa parecer, "Betty, a Feia", a original, que passou na Rede TV. Hoje praticamente não assisto televisão, a não ser para ver os jogos do Flamengo, quando passa na TV aberta.

Por fim, uma última opinião: pior do que as telenovelas (pois algumas tem qualidade), acho o jornalismo da TV Globo. Acho que as redes de TV deveriam optar pelo entretenimento ou pelo jornalismo. O ideal seria termos canais jornalísticos e imprensa comandada apenas por jornalistas, para termos mais isenção. E quem quisesse entreter o povo não poderia oferecer jornalismo.

Assim não precisaríamos ter, num telejornal de tanto alcance como o Jornal Nacional, mais tempo de notícia ao nascimento da Sasha (filha da Xuxa) do que, no mesmo dia, sobre a privatização de uma de nossas antigas empresas públicas, como aconteceu no passado.

Abraços!